As consequências do abuso sexual infantil apresentam sintomas que podem
aparecer em várias fases da vida
Este artigo colocará em
discussão os danos psíquicos e emocionais decorrentes do abuso sexual infantil,
com sintomas que podem aparecer na infância, adolescência ou na idade adulta.
É fato
muito raro que as crianças ou os adolescentes, que tenham sido ou estejam sendo
molestados sexualmente por um adulto, demonstrem ter a consciência do que está
ocorrendo e procurem a ajuda de um adulto, seja um familiar, educador ou alguém
com quem tenham um vínculo, com o intuito de denunciar os abusos de que estão
sendo vítimas. Comumente tendem a guardar segredo, principalmente se o pedófilo
for um parente, tal como pai, irmão, primo, padrasto ou um amigo que mantenha
um forte vínculo de confiança com os pais.
Na
mente infantil, que ainda está em desenvolvimento, o fato traumático,
consequente do abuso sexual, e a necessidade da manutenção do segredo acarretam
uma situação de forte angústia e alterações do comportamento. Isso acontece
devido à incapacidade de um psiquismo em desenvolvimento, que é o da criança,
poder elaborar o trauma emocional causado pela situação do abuso de que foi
vítima.
O trauma emocional, não
elaborado, aparecerá mais tarde, na vida dos indivíduos que foram vítimas desse
tipo de abuso, sob a forma de sintomas e alterações do funcionamento psíquico das
mais variadas formas, tais como:
• Acentuado rebaixamento da autoestima, que se expressa sob a forma de descrença em si mesmo e grande dificuldade para reconhecer e valorizar seus potenciais afetivos e intelectuais.
• O rebaixamento da autoestima abre caminho para o surgimento de sintomas de depressão emocional, o que aumentará a descrença do indivíduo em si mesmo.
• A pessoa descrente de si mesma e, por consequência, descrente dos outros, desenvolve um profundo sentimento de desamparo afetivo, que, quando associado a sintomas depressivos, tende a gerar sentimentos de desesperança e ansiedade.
• Os sentimentos de desesperança, desamparo e ansiedade, frequentemente, ocasionam crises de Ansiedade tipo Pânico ou, em muitos casos, a Síndrome do Pânico, que leva esses indivíduos a procurarem por ajuda psiquiátrica e ou psicoterápica, para resolverem o drama interno e o sofrimento psíquico de que são vítimas.
Além do
que foi descrito, o trabalho psíquico com adultos que foram sexualmente
abusados na infância, tem mostrado, com frequência, o fato de que essas
pessoas, apresentando dificuldades para estabelecerem vínculos afetivos, tendem
a se ligar a pessoas com graus de sadismo, que, de alguma maneira, reproduzem
nos relacionamentos afetivos situações de violência física ou psíquica,
humilhação, desprezo e desconsideração, para falar das mais frequentes, o que
nos leva à indagação: Até que ponto esses adultos de que estamos falando, que
sofreram com essa prática, ao se ligarem a pessoas que os maltratem, cometendo,
inclusive, atos de abuso, não estão tentando resolver, psiquicamente, a
situação da qual foram vítimas um dia, ou seja, o próprio abuso sexual?
Remo Rotella
Jr. é médico psiquiatra e psicanalista. Membro da Associação Brasileira de
Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.
http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/89/vitimas-da-pedofilia-as-consequencias-do-abuso-sexual-infantil-290529-1.asp
http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/89/vitimas-da-pedofilia-as-consequencias-do-abuso-sexual-infantil-290529-1.asp