18 de maio é a data em que Araceli Cabrera Crespo, de nove anos
incompletos, desapareceu da escola onde estudava para nunca mais ser vista com
vida. A menina foi estupidamente martirizada. Araceli foi espancada, estuprada,
drogada e morta numa orgia de drogas e sexo. Seu corpo, o rosto principalmente,
foi desfigurado com ácido. Seis dias depois do massacre, o corpo foi encontrado
num terreno baldio, próximo ao centro da cidade de Vitória, Espírito Santo. Seu
martírio significou tanto que esta data se transformou no “Dia Nacional de
Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes”.
ARACELI:
Símbolo da violência. (Por Pedro Argemiro)
Durante
mais de três anos, na década de 70, pouca gente ousou abrir a gaveta do
Instituto Médico-Legal de Vitória, no Espírito Santo, onde se encontrava o
corpo de uma menina de nove anos incompletos. E havia motivos para isso. Além
de o corpo estar barbaramente seviciado e desfigurado com ácido, se interessar
pelo caso significava comprar briga com as mais poderosas famílias do estado, cujos
filhos estavam sendo acusados do hediondo crime. Pelo menos duas pessoas já
tinham morrido em circunstâncias misteriosas por se envolverem com o assunto.
Ainda
assim, corajosos enfrentavam os poderosos exigindo justiça, tanto que o corpo
permanecia insepulto na fria gaveta, como se fosse a última trincheira da
resistência. O nome da menina era Araceli Cabrera Crespo e seu martírio
significou tanto que o dia 18 de maio - data em que ela desapareceu da escola
onde estudava para nunca mais ser vista com vida - se transformou no Dia
Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
Por
uma dessas cruéis ironias, Jardim dos Anjos era onde ficava um casarão, na
Praia de Canto, usado por um grupo de viciados de Vitória (ES) para promover
orgias regadas a LSD, cocaína e álcool, nas quais muitas vítimas eram crianças
- anjos do sexo feminino. Entre a turma de toxicômanos, era conhecida a atração
que Paulo Constanteen Helal, o Paulinho, e Dante de Brito Michelini, o
Dantinho, líderes do grupo, sentiam por menininhas. Dizia-se, sempre a boca
pequena, que eles drogavam e violentavam meninas e adolescentes no casarão e em
apartamentos mantidos exclusivamente para festas de embalo. O comércio de
drogas era, e é muito enraizado naquela cidade. O Bar Franciscano, da família
Michelini, era apontado como um ponto conhecido de tráfico e consumo livres.
Araceli
vivia com o pai Gabriel Sanches Crespo, eletricista do Porto de Vitória, a mãe
Lola, boliviana radicada no país, e o irmão Carlinhos, alguns anos mais velho
que ela. Na casa modesta, localizada na Rua São Paulo, bairro de Fátima, era
mantido o viralata Radar, xodó da menina, que o criava desde pequenino. Segundo
o escritor José Louzeiro que acompanhou o caso de perto e o transformou no
livro "Araceli, Meu Amor" - o nome Radar foi escolhido pela garota
"para que o animal sempre a encontrasse". Araceli estudava perto de
casa, no Colégio São Pedro, na Praia do Suá, e mantinha urna rotina
dificilmente quebrada. Ela saía da escola, no fim da tarde, e ia para um ponto
de ônibus ali perto, quase na porta de um bar, onde invariavelmente brincava
com um gato que vivia por ali.
No
dia 18 de maio de 1973, uma sexta-feira, a rotina de Araceli foi alterada.
Ela
não apareceu em casa e o pai, num velho Fusca, saiu a procurá-la pelas casas de
amigos e conhecidos, até chegar ao centro de Vitória. Nada. A menina não estava
em lugar algum. Só restou a Gabriel comunicar a Lola que a filha estava
desaparecida e que tinha deixado seu retrato em redações de jornais, na
esperança de que fosse, realmente, somente um desaparecimento. No dia seguinte,
quando foi ao colégio para conseguir mais informações, Gabriel ficou sabendo
que a menina tinha saído mais cedo da escola. De acordo com a professora
Marlene Stefanon, Araceli tinha "ido embora para casa por volta das quatro
e meia da tarde, como a mãe mandou pedir num bilhete".
Na
véspera, Lola tivera uma reação aparentemente normal ao constatar a demora da
filha em chegar em casa. Primeiro, ficou enervada; depois, preocupada. No
sábado, tarde da noite, sofreu uma crise nervosa e precisou ser internada no
Pronto Socorro da Santa Casa de Misericórdia. Ainda no início do processo,
acabariam pesando sobre ela fortes suspeitas e graves acusações. Lola foi
apontada como viciada e traficante de cocaína, fornecedora da droga para
pessoas influentes da cidade e até amante de Jorge Michelini, tio de Dantinho.
E mais: ela era irmã de traficantes de Santa Cruz de La Sierra, para onde se
mudou tão logo o caso ganhou dimensão, deixando para trás o marido Gabriel e o
outro filho, Carlinhos. Não se sabe até onde Lola facilitou ou estimulou a
cobiça dos assassinos em relação a Araceli.
Menina
era usada no tráfico de drogas
A
respeito de Dantinho e de Paulinho Helal, dizia-se que uma de suas diversões
durante o dia era rondar os colégios da cidade em busca de possíveis vítimas,
apostando na impunidade que o dinheiro dos pais podia comprar. Dante Barros
Michelini era rico exportador de café (tão ligado a Dantinho que chegou a ser
preso, acusado de tumultuar o inquérito para livrar o filho). Constanteen
Helal, pai de Paulinho, era comerciante riquíssimo e poderoso membro da
maçonaria capixaba. Seus negócios também incluíam imóveis, hotéis, fazendas e
casas comerciais. Já o eletricista Gabriel, seu maior tesouro era a filha. No
domingo, ele foi à delegacia dar queixa, onde lhe foi dito que tudo seria feito
para encontrar Araceli. Na Santa Casa, ele contou a Lola o resultado de sua
busca e falou da garantia dos policiais de que tudo acabaria bem. Lola pareceu
não acreditar - e chorou.
O
escritor José Louzeiro não tem dúvida: Lola foi, indiretamente, a causadora do
hediondo crime de que sua filha foi vítima. "Na sexta-feira, a mando da
mãe, Araceli tinha ido levar um envelope no edifício Apoio, no Centro de
Vitória, ainda em construção, mas que já tinha uns três ou quatro apartamentos
prontos, no 8º andar. A menina não sabia, mas o envelope continha drogas. Num
dos apartamentos, Paulinho Helal, Dantinho e outros se drogavam. Ela chegou,
foi agarrada e não saiu mais com vida", conta o escritor.
O
que aconteceu realmente com Araceli Cabrera Crespo talvez nunca se saiba. E
talvez, seja bom mesmo não conhecer os detalhes, tamanha é a brutalidade que o
exame de corpo delito deixa entrever. A menina foi estupidamente martirizada.
Araceli foi espancada, estuprada, drogada e morta puma orgia de drogas e sexo.
Sua vagina, seu peito e sua barriga tinham marcas de dentes. Seu queixo foi
deslocado com um golpe. Finalmente, seu corpo - o rosto, principalmente - foi
desfigurado com ácido.
Corrupção
e cumplicidade da polícia
Seis
dias depois do massacre da menina, um moleque caçava passarinhos num terreno
baldio atrás do Hospital Infantil Menino Jesus, na Praia Comprida, perto do
Centro da capital. Mas o que ele encontrou foi o corpo despido e desfigurado de
Araceli. Começou, então, a ser tecida uma rede de cumplicidade e corrupção, que
envolveu a polícia e o judiciário e impediu a apuração do crime e o julgamento
dos acusados por uma sociedade silenciada pelo medo e oprimida pelo abuso de
poder.Dois meses após o aparecimento do corpo, num dia qualquer de julho de
1973, o superintendente de Polícia Civil do Espírito Santo, Gilberto Barros
Faria, fez uma revelação bombástica. Ele afirmou que já sabia o nome dos
criminosos, vários, e que a população de Vitória ficaria estarrecida quando
fossem anunciados, no dia seguinte. Barros havia retirado cabelos de um pente
usado por Araceli e do corpo encontrado e levado para exames em Brasília.
Confirmando
que eram iguais.
Por
que a providência? Até então, havia dúvidas que era de Araceli o corpo que
apareceu desfigurado no terreno baldio. Gabriel sabia que era o da filha - ele
o reconheceu por um sinal de nascença, num dos dedos dos pés. Mas Lola disse o
contrário. Assim que se recuperou, ela foi ao IML reconhecer o corpo e afirmou
que não era de sua filha. Louzeiro recorda um outro fato a respeito disso,
altamente elucidativo. Certo dia, Gabriel levou o cachorro Radar ao IML só para
confirmar, ainda mais sua certeza. Não deu outra: mesmo com a gaveta fechada,
animal agiu realmente como um radar, como Araceli premonizara, e foi direto à
geladeira onde estava o corpo de sua dona.
Que Araceli descanse em paz e sua martírio não seja me vão, que Araceli nos proteja e proteja outras crianças.
ResponderExcluire muitas crianças são usadas e martirizadas no brasil enquanto desviam o dinheiro publico!
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