terça-feira, 30 de junho de 2015

"TINHA 11 ANOS, VIRGEM. MEU TIO ME PENETROU. ME SENTI SUJA E MINHA MÃE NÃO ACREDITOU"

“Aconteceu em 1996, quando eu tinha 11 anos."


Eu morava em um apartamento com meus pais e minhas irmãs, meu pai havia sofrido um derrame há poucos meses e estava de cama. Eu tinha um quarto só pra mim, mas nesse dia o dividia com a minha avó que estava visitando nossa casa.
Não  lembro  que dia era - era um dia qualquer da semana, um dia comum.

Era madrugada e minha avó e eu dormíamos. De repente alguém entra no quarto  sem acender a luz, eu me assusto e fico calada achando ser um ladrão. Me encolho debaixo das cobertas  tentando  me esconder, mas alguém puxa o edredom e começa a me tocar. As lágrimas rolam em meu rosto, mas eu sequer me mexo. Até hoje não entendo o porquê, mas não  consegui  me mexer. Ele me beija, sobe em cima de mim, abre minhas pernas e então tenta me penetrar. Eu era virgem, era apenas uma menina e nem sabia o que era aquilo. Ele tenta de novo e ainda assim não  consegue. Então força  e eu grito, mas ele impede que meu grito ecoe tapando minha boca - foi horrível. 


Eu não sei quanto tempo ele ficou ali, ele não  disse uma palavra sequer enquanto me penetrava, apenas gemia - e eu chorava - parecia uma eternidade. Finalmente  ele terminou, me beijou novamente  e então falou - nunca me esqueci - "você sabe quem está aqui? Sou eu, seu tio. Fiz isso porque te amo e  sabia que estava preparada e ia gostar".


 Eu em um impulso de raiva o empurrei, ele  esbarrou  na luz, minha avó  abriu os olhos, mas virou para o lado como se nada tivesse acontecido. Olhei pra ele sujo com o meu sangue e senti nojo de mim. Ele abriu a porta e saiu. Me enrolei no lençol e fui para  o banheiro, fiquei muito  tempo sentada no chão  em baixo do chuveiro, queria tirar aquilo de mim, queria limpar aquela sujeira, mas não  podia. 


Amanheci no banheiro com vergonha  de mim, com medo, sem saber  o que fazer. Não podia contar para o meu pai, ele estava doente. Então,  chamei  minha mãe  que me disse "você está louca, menina!". As lágrimas invadiram meus olhos e eu disse  “mãe, a vó viu, pergunta para ela”. Mas, minha avó disse o mesmo - que era loucura minha - e  eu ganhei uma bela surra por isso.
Nunca mais fui a mesma. Parei de estudar aos 13 anos, me envolvi com drogas e bebidas e fiz muito sexo. Queria que alguém me amasse e até hoje acho que através do sexo recebo amor. Nunca consegui me relacionar tranquilamente com ninguém. Sou mãe de 3 filhos de relacionamentos diferentes.
O que isso mudou na minha vida? Tudo.
Sou uma mulher frustrada, obesa, mãe solteira e que ainda assimila sexo com amor. Sou completamente infeliz.
O estupro não violou só meu corpo, violou minha vida e minha alma. Eu era apenas uma menina que queria casar virgem e ser amada e feliz.
Até hoje busco entender o que eu fiz pra causar aquilo, ainda me sinto suja e envergonhada.”

 

Por que publicar esse relato?


Após publicar as histórias das repórteres do Bolsa de Mulher que já foram vítimas de abuso, passamos a receber uma infinidade de relatos tristes. Muitos deles envolvendo abuso sexual de crianças.

Esse é um dos tantos que mexeu com a equipe do site. Porque era uma criança. Porque nenhuma mulher, muito menos uma criança, merece ou é culpada por um abuso. Enxergamos a importância em divulgar essas histórias que chegam a nós, com o consentimento das vítimas e sem identificá-las, para levar o debate de um tema tão importante para nossas leitoras.

A publicação deste e de outros relatos tem como objetivo conscientizar todas as mulheres vítimas de abusos, sejam eles psicológicos, físicos ou sexuais: nós não somos culpadas pelas violências das quais fomos vítimas. Além de também alertar as famílias para uma triste realidade: a maior parte dos abusos sexuais acontecem dentro de casa ou são cometidos por pessoas próximas às vítimas.

É preciso falar mais sobre o tema para sabermos que ele não está tão distante de nossa realidade como muitas vezes pensamos. Todas podemos ser vítimas. Nossos filhos também. Como vamos evitar isso? Tornando essas histórias cada vez mais públicas, humanizando as vítimas e denunciando. Nos tornando conscientes dessa realidade alarmante.

 

Abuso infantil


A pedofilia comumente é caracterizada como abuso sexual infantil, ato ou jogo sexual envolvendo um ou mais adultos e uma criança ou adolescentes. Informações da organização Children’s Rights revelam que, por ano, quase 2 milhões de crianças ao redor do mundo são vitimas da violência doméstica.

Os dados alertam para um grave problema: na maioria dos casos, os agressores estão muito perto dos violentados. Quando falamos de crianças, o problema é ainda maior já que, com menores condições e artifícios de defesa, elas se tornam vítimas mais fáceis e frágeis.

Ainda de acordo com a organização, entre os impactos dessas experiências estão problemas psicológicos e transtornos mentais graves. Além das possíveis consequências físicas, as estrutura psíquica e emocional do indivíduo é completamente alterada e a superação do ocorrido, como foi possível ver com o relato da leitora, difícil e dolorosa.

É por isso que todos aqueles que vivem cercados de crianças ou adolescentes – sejam pais, professores, familiares ou amigos - devem estar sempre atentos. A criança, quando está passando por situações de abuso, dá sinais e é necessário saber quais são eles – e nunca, em hipótese alguma, duvidar de suas confissões.

Baixa auto-estima, ansiedade, agressividade, timidez excessiva e depressão são alguns indicativos de que alguma coisa está indo mal com o desenvolvimento daquele indivíduo. Investigação, acompanhamento e diálogo são essências nesses casos.

 

Como denunciar casos de abuso infantil?

Para denunciar casos de pedofilia é possível ligar gratuitamente no número 100 – disque denúncia nacional da Secretaria dos Direito Humanos do Ministério da Justiça (a mensagem também pode ser enviada por e-mail para disquedenuncia@sedh.gov.br). Além disso, o conselho tutelar da cidade pode ser acionado junto com a realização de uma queixa na Polícia Militar, com a elaboração de um boletim de ocorrência.

 

E você? Já foi vítima de abuso?

Falar sobre as experiências pelas quais passamos é um processo importante para aceitar o que aconteceu e também para superar. Além disso, é muito importante para ajudar outras pessoas a enfrentarem essa situação e conscientizar a população sobre o problema. Foi isso que pensamos ao decidir criar espaço no site para essas histórias. Também queremos saber a sua. Fique à vontade para se abrir. Envie um e-mail para a nossa redação (através do redacao@bolsademulher.com) e compartilhe o que você nunca contou para ninguém. Se você permitir, contamos sua história para outras leitoras, sem nenhuma identificação.

FONTE: BOLSA DE MULHER
 http://www.bolsademulher.com/abusos-sexuais/tinha-11-anos-e-era-virgem-meu-tio-me-penetrou-me-senti-suja-e-minha-mae-nao/?utm_source=facebook&utm_medium=manual&utm_campaign=BolsaFB


quinta-feira, 18 de junho de 2015

MENINAS NEGRAS FEITAS ESCRAVAS DOMÉSTICAS E SEXUAIS NA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL

Quando lembramos que o fim da escravidão –  há 127 anos -, o advento da República, e a própria democracia não significaram mudanças nas estruturas do status quo, tampouco oportunidades iguais e justiça à população negra brasileira, ainda há quem chame de exagero, critique tais afirmações e acuse o movimento negro e quem defende políticas reparatórias de “vitimistas”.


Por Douglas Belchior, Com informações do R7 Notícias


Poucas vezes meios de comunicação da chamada “grande mídia” brasileira abrem espaços para a demonstração de quão a sociedade está muito mais próxima da escravidão do que de uma democracia real. Na noite de segunda-feira 15, a Rede Record promoveu um desses momentos de exceção, ao trazer à tona a gravíssima denúncia de opressão de meninas negras quilombolas, tratadas, em pleno ano de 2015, como escravas domésticas e sexuais, na região central do Brasil.

Esse tema, sim, deveria chamar a atenção do Congresso Nacional e de toda a sociedade brasileira, e não a falsa polêmica em torno da redução da maioridade penal e da destruição do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que, se fosse efetivado, protegeria a vida e a dignidade da juventude.
Jornalismo da Record revela escravidão doméstica e sexual de crianças negras e pobres
A reportagem revelou ao país a monstruosa realidade a qual crianças negras e pobres da comunidade quilombola dos Kalunga, localizada no território de 3 municípios do Estado de Goiás (Cavalcante, Monte Alegre de Goiás e Teresina de Goiás), são submetidas há muitos anos.
Empregadas no trabalho doméstico, exploradas no trabalho infantil e escravas sexuais dos patrões, homens brancos. Esta é a realidade vivida por muitas crianças e, ao que parece, desde sempre, ao lado do poder central do país.

Meninas, de 9 a 14 anos de idade, exploradas de todas as formas por aqueles que deveriam protegê-las. Famílias abandonadas e coagidas, estruturas de Conselhos Tutelares e defensores de direitos humanos completamente degradados e frágeis. Descaso de governantes. Uma realidade ainda muito comum em especial nos rincões do nosso país, onde permanecemos no século 19.
“O velho coronelismo interiorano ainda rege nosso município”, diz uma das Conselheiras Tutelares da região. “Não temos formação, preparo e condições de intervir.”

“A gente tem conhecimento de 57 denúncias, mas na verdade a prática da exploração de crianças negras vem de tanto tempo e de uma forma tão ‘normal’ para aquelas pessoas que o número de casos pode ser muito maior”, diz em vídeo Marcelo Magalhães, editor da reportagem.
Para o repórter Lúcio Sturm, a história de Dalila foi a mais forte: “Ela foi escravizada numa casa, chegou a dormir numa casinha de cachorro. Durante 18 anos ela aguentou essa dor de uma criança abusada, explorada, sozinha em silêncio”, relata.

E as palavras da própria ‘Dalila': “Ela só pegou a coberta, jogou pra mim e disse: vai dormir lá na casinha com ele [cachorro]”
O apresentador do programa, Domingos Meirelles, em vídeo de bastidores reconhece: “Eu tenho 50 anos de profissão e não me lembro, ao longo da minha vida profissional, de ter visto uma história tão chocante quanto essa”.

Um ódio, misturado a dúvidas e certezas me agonia o pensamento: como é possível, num país que não alcançou o nível básico de proteção e dignidade à vida de meninas, crianças de 8, 9, 11, 14 anos de idade, discutirmos a destruição da maior legislação de proteção, o ECA? Que espécie de país é esse que naturaliza, banaliza e estimula, por ações e omissões, o estupro coletivo de suas crianças? E que moral têm os senhores engravatados, alimentados por altos salários, corruptos, hereges legislativos que em nome de Deus, da moral, da família, ou mesmo, hipócritas, em nome da história da luta por direitos sociais, “vermelhos-comunais”, que gestam a burocracia, arrotam status, se engalfinham por holofotes e se justificam na burocracia do executivo, dos ministérios, secretarias e conselhos, como o que eu participo, por exemplo – o Conanda – ineficaz, moroso e vergonhoso que é. Que moral?
Talvez a moral do escárnio.
Isso é Brasil: O país do racismo explícito. O país da escravidão continuada.

FONTE: GELEDES

http://www.geledes.org.br/meninas-negras-feitas-escravas-domesticas-e-sexuais-na-regiao-central-do-brasil/#gs.26b21ddaa4164de68ff74f73cfe1807e



CAAC É INAUGURADO NO HOSPITAL MUNICIPAL SOUZA AGUIAR

Policiais da Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV) e um perito do Instituto Médico Legal (IML) atuarão no setor de emergência pediátrica do hospital para atender crianças vítimas de abuso sexual que derem entrada na unidade de saúde.


O primeiro Centro de Atendimento ao Adolescente e à Criança (CAAC) do Estado foi inaugurado nesta quarta-feira (17/06), no Hospital Municipal Souza Aguiar.

A iniciativa é uma parceria entre a Polícia Civil, o Ministério Público e a Secretaria Municipal de Saúde, com apoio do Instituto Bola Pra Frente, tem como objetivo dar um atendimento especializado às crianças e adolescentes vítimas de abusos sexuais.

Policiais da Delegacia de Atendimento à Criança e ao Adolescente Vítima (DCAV) e um perito do Instituto Médico Legal (IML) atuarão no setor de emergência pediátrica do hospital para atender crianças vítimas de abuso sexual que derem entrada na unidade de saúde.

Após serem examinados e medicados, os menores serão encaminhados para o CAAC, onde o registro de ocorrência será realizado por agentes treinados e técnicas de entrevista investigativa voltada para crianças e adolescentes.

O novo espaço possui uma sala de espera, com televisão e espaço lúdico para as crianças, um cartório, onde o registro de ocorrência será realizado, uma sala de oitiva especial, em que os depoimentos das vítimas serão tomados e gravados, e também um setor destinado ao IML, para a realização de exames de corpo de delito.

"É um prazer imenso estar aqui inaugurando um espaço como esse no Hospital Municipal Souza Aguiar, que é referência para o Brasil. A questão do abuso sexual é uma chaga nos dias de hoje e esse não é um problema somente da Segurança Pública, mas de toda a sociedade.

E nós nos colocamos á disposição para fazer o possível para minorar essa chaga. Por isso, esse estender demãos entre organizações e órgãos públicos e, especificamente, a parceria com a de Saúde é importantíssima.
Certamente, a iniciativa vai gerar demanda para a instalação de CAACs em outros lugares, para oferecer a mesma qualidade de atendimento", disse o governador Luiz Fernando Pezão, durante a inauguração do espaço.

Para a delegada titular da DCAV, Cristiana Bento, o CAAC vai evitar o processo de revitimização das crianças  e adolescentes (que no procedimento normal de registro da ocorrência, precisam repetir o relato na delegacia, no IML e também perante à Justiça), além de dar mais celeridade à apuração dos casos de abuso sexual identificados na unidade hospital. “O Centro terá um espaço humanizado, com profissionais capacitados para lidar com vítimas de abuso sexual, ajudando a minimizar o impacto da violência sofrida. Após o devido tratamento médico da criança, serão feitos, em um só lugar, o registro da ocorrência com a oitiva técnica gravada e também o exame pericial. O depoimento da vítima será gravado e essa gravação ficará à disposição da 

Polícia e da Justiça, não havendo necessidade de acriança relembrar e repetir o caso diversas vezes. O CAAC possui equipamentos modernos e eficientes, como por exemplo, um aparelho de colposcópio de última geração, que vai ajudar a identificar lesões e indícios de violência sexual no trato genital da vítima. O Centro é um marco para o estado e vai contribuir para dar mais agilidade para o processo de investigação do caso”, explicou a delegada.

Já o chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, destacou que a importância da iniciativa para a construção de um futuro mais digno para crianças e adolescentes. “É um espaço de valor inestimável para a sociedade, que vai oferecer um tratamento de qualidade às vítimas de abuso sexual e auxiliará na investigação dos casos. Esse tipo de iniciativa nos ajudará a construir um futuro melhor para as crianças, que são o futuro do país”.

Também presente na inauguração do CAAC, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, ressaltou que a criação do novo espaço vai encorajar vítimas de abuso sexual a buscar atendimento no hospital e também a registrar a ocorrência. “A existência de um espaço assim, com profissionais especializados e atendimento humanizado, certamente vai incentivar vítimas de abuso sexual a virem até o hospital para serem atendidas e registrar o caso. É um modelo que tem tudo para ser um sucesso e ser replicado em outras regiões do estado”, concluiu.

FONTE: POLÍCIA CIVIL RIO DE JANEIRO

http://www.policiacivil.rj.gov.br/exibir.asp?id=20927



domingo, 14 de junho de 2015

VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A CRIANÇA CRESCE EM SP

Brasil registra uma média de 87 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes por dia


Todos os dias, em média nove moradores de São Paulo ligam para o Disque 100, telefone da Secretaria Nacional de Direitos Humanos, denunciando casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. E o pior: esse número cresceu 16% desde 2011, fazendo do estado o líder absoluto nesse tipo de ocorrência no país.
“Os números são altos e preocupantes, porque se mantêm elevados mesmo depois das muitas ações governamentais realizadas na última década para tentar reduzi-los”, disse Irina Bacci, ouvidora nacional de Direitos Humanos. 
Na capital paulista, esses casos normalmente chegam ao Núcleo de Violência Sexual do Hospital Estadual Pérola Byington, o único capacitado para fazer exame de corpo de delito nas vítimas menores de idade. Ali, as estatísticas também são alarmantes e indicam que o número de atendimentos triplicou nos primeiros dez anos do serviço, de 2001 a 2011.
De acordo com o levantamento, 1.088 crianças de até 12 anos foram atendidas pelo serviço do hospital em 2011. Dez anos antes, em 2001, esse número foi de 352 atendimentos. A Secretaria Estadual de Saúde, responsável pelo hospital, não passou dados atuais dos acolhimentos.
O Pérola Byington oferece atendimento médico  e acompanhamento psicológico a essas vítimas em sua própria sede na região central ou em entidades conveniadas. Uma delas é o CRVV (Centro de Referência às Vítimas de Violência), do Instituto Sedes Sapientiae, que teve o índice de atendimentos a vítimas de violência sexual aumentado em 60% nos últimos cinco anos. Em 2010 o centro fornecia atendimento psicológico a 50 crianças e hoje já são 80 que passam  pelo acolhimento de psicólogos e assistentes sociais.
“Esse aumento é um reflexo assustador de uma cultura machista que ainda prevalece e também, por outro lado, das pessoas que estão mais atentas e seguras para denunciar”, disse a psicóloga Olga Mattioli, coordenadora do Núcleo de Estudos da Violência em Relações de Gênero da Unesp.

No Brasil, 87 denúncias por dia são registradas
O Brasil registra uma média de 87 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes por dia. Essa é a quarta violação mais recorrente contra menores denunciada no Disque 100, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos.

737 Denúncias feitas em SP de janeiro a março

No primeiro trimestre foram 4.480 casos
No primeiro trimestre deste ano, o serviço da Secretaria Nacional de Direitos Humanos registrou 4.480 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. Por ano, o órgão atende uma média de 32 mil denúncias.

São Paulo lidera com maioria das ligações
Em São Paulo, nos primeiros três meses de 2015 foram registradas 737 denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes. Junto com Rio de Janeiro, Minas Gerais e Bahia, esses foram os estados que apresentaram maiores demandas no primeiro trimestre deste ano.
2.889 
denúncias foram feitas em São Paulo no ano de 2011
3.372 
foram os registros em SP pelo Disque 100 em 2014
denúncias são feitas por dia na capital paulista
60% 
é a alta no número de atendimentos em ONGs

Entrevista com Reinaldo de Carvalho Juiz da Infância e Juventude

Juiz da Vara da Infância e Juventude do Fórum Regional da Lapa, na Zona Oeste, Reinaldo de Carvalho é um dos maiores especialistas em casos de violência sexual contra crianças.

DIÁRIO_ Quais as explicações para o aumento no número de denúncias de violência sexual contra as crianças?

REINALDO DE CARVALHO_ São várias as causas. A primeira é a maior disponibilidade de meios para a população denunciar. Outro fator é a capacitação dos serviços de saúde para que possam detectar esses casos de maneira mais rotineira. E por último, uma maior conscientização da população em geral. As mães, por exemplo, estão mais seguras para denunciar.

Qual é o perfil do agressor e da vítima?
Normalmente, o agressor é da própria família. Pai, padrasto, tio, avô. São pessoas de todas as classes, embora os casos que nos chegam sejam das classes menos favorecidas. Isso porque nas mais altas o problema é resolvido entre eles. Com os advogados e psiquiatras das famílias abastadas.

E as vítimas?
Normalmente são do sexo feminino, embora aconteça também com meninos. Os abusos começam a ocorrer quando elas têm entre 7 e 8 anos, mas temos casos com crianças muito mais novas registrados.
Quais as situações mais difíceis de serem investigadas?
Quando o agressor é o provedor da família. Nessas situações, normalmente as mães e até as vítimas têm medo de ficar sem o sustento e preferem se calar.

Hospital tem unidade do IML dentro de suas instalações
Os Hospital Pérola Byington, na região central de São Paulo, é a porta de entrada pelo SUS (Sistema Único de Saúde) dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes. 
As situações de abuso que necessitam de atendimento de emergência recebem atenção no Serviço de Pronto Atendimento da instituição, disponível 24 horas, todos os dias, incluindo feriados. Casos que não necessitam de intervenção médica de urgência são atendidos pelo serviço social do hospital, de segunda a sexta-feira, das 7h às 19h. 
Não é necessário apresentar encaminhamento de outras unidades de saúde ou boletim de ocorrência para receber atendimento. 
O Centro de Referência do Hospital  também conta com uma unidade do IML (Instituto Médico Legal), especializada no atendimento de casos de violência sexual. No entanto, para acessar os procedimentos oferecidos pelo IML, é necessária a apresentação de requisição da autoridade policial, feita durante o registro da ocorrência nas delegacias.
Não é raro  crianças e adolescentes chegarem ao hospital em viaturas policiais, para fazer exames de corpo de delito quando procuram assistência depois do flagrante de violência sexual. O Pérola Byington atende uma média de mil crianças de até 12 anos de idade a cada 12 meses nesse setor especializado.

Vítimas de abuso desenvolvem até risco de suicídio
O menino franzino estava impaciente. Ia ser atendido pela psicóloga do CRVV (Centro de Referência às Vítimas de Violência), do Instituto Sedes Sapientiae, na Zona Oeste de São Paulo, e como de costume ganharia um lanche depois da sessão. Acontece que queria antes. Por isso estava ansioso.
“Para eles é muito duro falar sobre o abuso que sofreram, por isso não forçamos nada”, disse a psicóloga Manuela de Oliveira. “Eles falam quando querem e o que querem.”
A psicóloga conta que a entidade atende crianças e adolescentes que estão em abrigos (55%) comunitários e outras que vivem com a própria família (45%). “Temos jovens que sofreram abusos seguidos dos três anos até a adolescência”, disse. “Boa parte desses casos gera processos criminais.”
Maria Amélia de Sousa e Silva, coordenadora do serviço, explica que geralmente os agressores são pessoas próximas. “Eles se valem da confiança da criança para praticar o abuso”, revela. 
Manuela e Maria Amélia dizem que as crianças chegam à entidade assustadas, com danos psicológicos já detectados e outros potenciais. “Elas vêm desconfiadas, com medo de tudo. Com histórico de agressividade, depressão e até risco de suicídio”, afirma a psicóloga.
Com relação aos riscos potenciais, a especialista aponta dificuldades futuras de relacionamento afetivo, prostituição no caso das meninas e tendência a atos infracionais no dos meninos. “Quando essas crianças entram no circuito da violência precisam de um agente externo para conseguir sair disso”, explicou.
Manuela afirma revela que são comuns histórias de violência sexual vivenciadas por até cinco gerações dentro da mesma família. “Vamos investigar e descobrimos histórias de avós muito jovens que já eram abusadas e trazem seus netos com os mesmos problemas.”
As psicólogas destacaram ainda que a maior dificuldade relatada pelas mães das vítimas está na credibilidade de suas histórias por parte da polícia. 
“Normalmente as delegacias especializadas em atendimento à mulher são mais sensíveis para estes assuntos, mas não funcionam à noite e nos finais de semana”, lamenta Manuela.

Por: Fernando Granato 


http://www.redebomdia.com.br/noticia/detalhe/82963/violncia-sexual-contra-a-criana-cresce-em-sp