Somente nos EUA, Vaticano já pagou US$ 3 bilhões em indenizações a vítimas
Somente a
partir dos anos 80, as primeiras denúncias de casos de pedofilia envolvido
padres e outras figuras da Igreja Católica começaram a vir à tona, em especial
nos Estados Unidos e no Canadá. Nos anos 1990, surgiram revelações de abusos na
Irlanda, no México e no Reino Unido. Somente com o pagamento de indenizações a
vítimas nos EUA estima-se que, entre 1950 e 2007, o Vaticano tenha desembolsado
cerca de US$ 3 bilhões.
As denúncias de abusos generalizados abalaram a igreja e levaram a perda
de milhares e fiéis, muitos indignados com a capacidade da instituição de
reagir e punir os pedófilos. A Santa Sé é signatária da convenção da ONU sobre
os Direitos da Criança desde 1990, mas somente em 2013 modificou o Código Penal
da Cidade do Vaticano, passando a reconhecer como crimes os abusos contra
jovens. Os delitos de violência sexual, prostituição e pornografia infantil
envolvendo menores podem ser punidos com até 12 anos de prisão.
A dificuldade em pôr fim aos abusos — há diversas denúncias de
religiosos que continuaram atacando menores mesmo após afastados de suas
arquidioceses, sem que a Igreja tomasse medidas rigorosas para puni-los — teria
sido uma das razões da renúncia do Papa Bento XVI. Ao assumir o posto, em março
de 2013, o Papa Francisco afirmou que lidar com a questão era fundamental para
a credibilidade da Igreja Católica. Em dezembro do mesmo ano, ele criou uma
comissão para punir os padres pedófilos e oferecer ajuda às vítimas.
Não faltam casos para o Vaticano investigar. Em julho de 2010, o padre
John Sidney Denham, então com 67 anos, se declarou culpado das acusações
relativas ao assédio a meninos entre 5 e 16 anos de escolas de Nova Gales do
Sul, na Austrália, entre os anos de 1968 e 1986. Ao ser condenado a quase 20
anos de prisão, pediu desculpas às vítimas e às suas famílias, afirmando que
não passava de um "pedófilo asqueroso".
Em março de 2010, o “The New York Times” publicou uma ampla reportagem
sobre os abusos na escola para deficientes auditivos Saint John, em Milwaukee,
no estado americano de Wisconsin. Os casos teriam acontecido entre os anos 60 e
70, envolvendo dezenas de meninos. Três arcebispos foram alertados para os
avanços do padre Murphy nos alunos, mas nada fizeram para protegê-los. O algoz
nunca foi punido, mesmo após ter confessado a uma assistente social que
molestara 30 crianças.
Na mesma época, na Alemanha, outra denúncia dava conta de que o então
cardeal Joseph Ratzinger — futuramente consagrado como o Papa Bento XVI — teria
acobertado os abusos cometidos pelo padre Peter Hullermann.
Acusado em 1979 de molestar crianças na cidade de Essen, Hullerman foi
submetido à avaliação psiquiátrica, que teria comprovado uma tendência à
pedofilia. Ratzinger determinou que o padre fosse transferido e tratado em
Munique. No ano seguinte, porém, o cardeal foi informado de que Hullerman
continuava no serviço pastoral. Seis anos depois, ele foi novamente acusado de
abusar de crianças.
FONTE: ACERVO JORNAL O GLOBO
http://acervo.oglobo.globo.com/em-destaque/denuncias-de-pedofilia-na-igreja-comecaram-surgir-nos-anos-80-11509839