Por Carolina
Vila Nova
Há
tempos, sabemos da importância da infância para uma vida adulta feliz e
saudável. Recentemente, li algo sobre o assunto, que citava o seguinte exemplo:
se uma criança, que chora e pede para ser alimentada, é ignorada pela mãe no
momento do choro, mas é atendida quando espera em silêncio, esta criança grava
em seu subconsciente, que quando quer alguma coisa não deve pedir e nem chorar,
mas esperar, pois alguém vai perceber sua necessidade apenas em seu silêncio.
Achei o exemplo esplêndido, porque apesar de fazer muito sentido e parecer
lógico, é algo tão cruel, que eu não havia pensado nisso. Esta criança se
tornará um adulto que não luta pelo que quer, mas que espera silenciosamente.
Percebi o quanto pequenas atitudes podem influenciar o comportamento de um
individuo a sua vida inteira, sem que o mesmo nem se dê conta.
Certa
vez, tive a seguinte experiência com vizinhos de apartamento: as paredes não
eram maciças o bastante para abafar os sons mais altos. Todos os dias, a mãe
das crianças parecia um anjo enquanto o marido estava em casa: falava baixinho
e parecia a melhor mãe do mundo, além de esposa exemplar. Porém, assim que o
marido saía de casa, a mulher começava a gritar freneticamente com as crianças.
Por vezes, trancava-as no banheiro ou no quarto para limpar a casa. O caso era
claro: o casamento não ia bem, a mulher estava sempre competindo com a
ex-mulher do marido e tentava a todo custo manter a casa na mais perfeita
ordem. Quando o homem chegava em casa, a mesma estava impecável e a mulher
parecia ser tranquila.
Eu me
pergunto: o que aquelas duas crianças vão levar para suas vidas adultas sobre
essas experiências com sua mãe? Será que sempre verão no pai, o falso herói,
que era capaz de transformar a mãe nervosa em uma pessoa calma e prestativa?
Será que se darão conta algum dia, da oscilação terrível de humor a que eram
submetidos diariamente, por conta da insegurança da mãe? De que forma esse tipo
de experiência afeta a vida das pessoas quando já adultas? Será que todo estudo
de psicologia e psicanálise nos permite mesmo olhar para trás e trabalhar o que
nos foi feito quando ainda éramos tão vulneráveis e vazios de aprendizado?
Não
conheço as respostas para essas questões, mas gosto das dúvidas que elas
proporcionam. Conheço uma psicóloga que decidiu pausar sua vida profissional,
quando se tornou mãe. Ela sabia da importância fundamental dos dias infantis de
sua filha, para que a mesma pudesse se tornar uma adulta feliz e segura, sem
traumas e com comportamentos oriundos de uma infância mal vivida. Certamente,
muitas mães fariam o mesmo, se soubessem do grau tão elevado de importância da
infância, na vida de um ser humano.
Quer um
filho saudável, feliz e bem sucedido? Proteja sua infância. Viva seus dias com
ele e para ele. O proteja de atitudes bobas como a da mãe que maltratava seus
filhos, toda vez que o marido saía de casa.
Ser
criança é ser um indivíduo vazio, pronto para aprender com seus pais,
absorvendo tudo, sem possibilidade de filtrar o que é bom e o que é ruim. Se na
maioria das vezes, nem mesmo os pais percebem o quão falhos são, quem dirá as
crianças?
Não somos
responsáveis por nossa infância e nem pelo que fizeram conosco. Sobre isso e
para isso, utilizamos os recursos da psicologia. Mas somos sim, totalmente
responsáveis pela infância de nossos filhos.
Que todo
amor seja destinado aos nossos. E quando necessário, vale buscar ajuda
profissional, já que o assunto é tão sério, delicado e difícil.
Porque o
que acontece na infância, não fica na infância.
Mas fica…
para a vida toda!
CAROLINA VILA NOVA:
colunista Conti outra
Carolina Vila Nova é
brasileira. Tem cidadania alemã, 39 anos. Escritora e Roteirista.
É autora dos seguintes livros:
“Minha vida na Alemanha” (Biografia),
“A dor de Joana” (Romance-drama),
“Carolina nua” (Crônicas),
“Carolina nua outra vez” (Crônicas),
“Vamos vida, me surpreenda!” (Crônicas) e
“As várias mortes de Amanda” (Romance-drama).
FONTE: CONTI outra
http://www.contioutra.com/o-que-acontece-na-infancia-nao-fica-na-infancia/
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