Em 2008, foram 55 casos registrados. Já 2011, foram quase
500.
"Número pode ser maior. Muitas pessoas não
denunciam", diz delegado.
"As pessoas que estão mais próximas de nós são as
que mais maltratam nossos corações". Esse é o desabafo de uma avó que teve
o neto de 8 anos abusado sexualmente. O garoto foi violentado durante quatro
anos por familiares. "Foi um choque pra todos nós. Parecia que um buraco
tinha sido aberto e todos caimos dentro", comenta a aposentada, que, por
medo, prefere não se identificar. Nos últimos quatro anos, o número de
ocorrências na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) cresceu
quase 10 vezes no Espírito Santo.
Em 2008, foram registrados 55 casos. Já, em 2011, as
ocorrências chegaram a 470. "É um crime bárbaro. Diariamente recebemos
denúncias de crianças vítimas de abuso sexual. Essas crianças têm a infância
marcada pela violência", diz o delegado Marcelo Nolasco, responsável pela
investigação de casos de abuso no estado.
Abusar sexualmente
de crianças e adolescentes é crime. No Brasil, a pena por estupro de
vulnerável, quando a vítima possui menos de 14 anos, pode chegar a 15 anos de
prisão. Mas, de acordo com a polícia, nem sempre, o agressor é preso. "As
pessoas ainda têm medo de denunciar. Isso porque as crianças abusadas ficam
receosas de contar que está acontecendo. Em alguns casos, as vítimas sofrem
ameças dos agressores, se não fosse isso, o número de ocorrências poderia ser
muito maior", afirma Nolasco.
O Estatuto da Criança e do Adolescente aponta que é dever
da família, da sociedade e do estado garantir à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito: à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária.
No Espírito Santo, a maioria das vítimas de abuso sexual
é do sexo feminino e tem entre 12 e 17 anos, segundo dados da Delegacia de
Proteção à Criança e ao Adolescente. Mas a violência também é cometida contra
meninos e menores de 11 anos. De acordo a delegacia, 95% dos agressores são do
sexo masculino e, em quase metade dos casos, é o pai ou familiar da criança.
Quem passa por uma experiência como esta nunca guarda
boas lembranças.
"Meu neto era uma criança feliz, alegre, gostava de
brincar, de passear. De repente, mudou de comportamento. Ficou quieto, se
afastou da família, não queria mais ir pra escola", conta a avó que teve o
neto abusado. A psicóloga Mônica Gomes explica que a mudança de comportamento é
o primeiro sinal de que algo errado está acontecendo com essa criança. "Os
pais precisam estar atentos porque esse pode ser um sinal de abuso sexual",
diz.
O mais difícil para as famílias das crianças vítimas de
abuso sexual é descobrir que o agressor está mais próximo do que se imagina.
"Ninguém desconfiava que o problema estava próximo da gente. Meu neto era
abusado pela outra avó e pelo sobrinho dela, um jovem de 28 anos. Parecia que
estávamos de olhos fechados", revela a avó da criança abusada.
O garoto, atualmente com 8 anos, sofria abuso desde os 4
anos. A família só tomou conhecimento da violência quando se mudou para outro
estado. Foi aí que o menino abriu o jogo para os pais. "A mãe dele foi
perguntando o que estava acontecendo e ele revelou tudo. Procuramos a polícia
na hora", contou a avó.
CAMPANHA
Tornar conhecido o que muitos não querem enxergar. Esse é
um dos objetivos de uma campanha contra a pedofilia lançada pela Associação
Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC).
O vídeo, lançado na internet em julho, já foi visto por mais de 5 mil pessoas.
"Acreditamos que a pedofilia é um problema sério que afeta gravemente o
desenvolvimento e o futuro do nosso país, e que, por isso, é dever de todos os
cidadãos divulgar informações sobre o tema e atentar para os mínimos sinais
apresentados ao seu redor. Isso sem esquecer de denunciar. É nossa obrigação
evitar que nossas crianças percam sua infância e tornem-se adultos
traumatizados", diz João Carlos Basilio, presidente da ABIHPEC.
TRATAMENTO
Em Vitória, as vítimas de abuso sexual encontram
tratamento nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social
(Creas). São três espalhados pela capital.
O G1 visitou uma dessas unidades onde conheceu meninos e
meninas com idades entre 10 e 15 anos. Crianças que encontraram em casa, em vez
de amor e carinho, violência. No local, elas recebem atendimento psicológico e
social. Os menores participam de oficinas de pintura, artesanato e esporte.
"Recebemos aqui crianças de vários bairros da capital. Menores que foram
abusados pelo pai ou por algum familiar. E elas chegam muito fragilizadas,
precisam de apoio e atenção", revela a assistente social Leila Cândido,
uma das funcionárias do CREAS.
O atendimento, muitas vezes, não é feito somente com as
crianças, mas com toda a família. "Além da criança, a família fica muito
desestruturada ao saber o que estava acontecendo dentro de casa. Por isso, o
trabalho e o tratamento é demorado. Não dá pra dizer que esses meninos e
meninas saem daqui curados, mas, com esse trabalho, é possível conviver com o
trauma sofrido", comenta a assistente social.
A psicóloga Mônica Gomes, que trabalha com vítimas de
abuso sexual, diz que é importante o diálogo aberto dentro de casa e também no
espaço onde a criança convive. "A criança precisa ter um espaço para ser
ouvida. Precisa ter uma confiança muito grande nos pais para contar o que está
acontecendo com ela. Isso só é possível em famílias onde há um bom
relacionamento, um espaço pra conversa". finaliza.
ONDE PROCURAR AJUDA
Vítimas de abuso sexual consegue atendimento psicológico
nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas). Em Vitória,
existem três locais especializados para atender crianças e adolescentes
abusados:
- Centro de Vitória: Rua Aristides Freire, 36. Telefonte:
3132-8065
- Bento Ferreira: Rua José Carvalho, 374, Ilha De Santa
Maria. Telefone: 3132-1719
- Maruípe: Rodovia Serafim Derenzi, 10410, Joana D´arc.
Telefone: 3233-3420.
COMO DENUNCIAR
Se houver suspeita ou conhecimento de alguma criança ou
adolescente que esteja sofrendo violência, a pessoa deve denunciar. Isso pode
ajudar meninas e meninos que estejam em situação de risco. As denúncias podem
ser feitas a qualquer uma dessas instituições:
• Conselho Tutelar da cidade;
• Disque 100 (por telefone ou pelo e-mail
disquedenuncia@sedh.gov.br) – canal gratuito e anônimo;
• Escola, com os professores, orientadores ou diretores;
• Delegacias especializadas ou comuns;
• Polícia Militar, Polícia Federal ou Polícia Rodoviária
Federal;
• Número 190;
http://g1.globo.com/espirito-santo/noticia/2012/09/em-4-anos-abuso-contra-criancas-e-adolescentes-cresce-750-no-es.html
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