LEVANTAMENTO DO HOSPITAL
DAS CLÍNICAS DE SÃO PAULO REVELA TAMBÉM QUE 75% DAS VÍTIMAS AINDA NÃO
COMPLETARAM 2 ANOS DE IDADE, QUE AS MÃES SÃO AS PRINCIPAIS AGRESSORAS E QUE 10%
DOS CASOS SÃO DE ABUSO SEXUAL
Maus tratos à criança aumentam 36%, diz estudo do HC
São Paulo – O número de casos de maus tratos infantis no primeiro
semestre de 2010 foi 36% maior do que em igual período do ano passado. Esta é a
constatação de um levantamento do Serviço Social do Instituto da Criança do
Hospital das Clínicas de São Paulo. Em 60% dos casos registrados os pais foram
os agressores, sendo a mãe a que mais cometeu o crime.
Além da mãe e do pai, os agressores mais frequentes são outros membros
da família, como tios, irmãos, padastros e madastras. O abuso sexual responde,
em média, por 10% dos casos de violência infantil.
Até julho passado, foram atendidos 60 casos de violência infantil no HC,
entre eles uma tentativa de suicídio de uma garota de 13 anos, vítima de
agressão psicológica pelos pais. “Elas alegam passar mais tempo com os filhos e
muitas vezes acabam descontando nas crianças as frustrações e as brigas com o
companheiro”, diz o pediatra Antônio Carlos Alves Cardoso, que trabalha no
Instituto da Criança e no Hospital Auxiliar de Cotoxó, também ligado ao HC.
O especialista alerta que 75% dos casos de agressão acontecem com
crianças menores de dois anos. “Desse percentual, metade é menor de um ano,
fase na qual a criança ainda não consegue se expressar ou se defender”, observa
o médico.
De acordo com a sua tese de doutorado, mais de 90% das crianças que
sofrem agressão terão seqüelas físicas ou psicológicas. “Quanto mais nova for a
criança agredida, maior a chance da sequela ser grave”, relata. Os meninos são
as maiores vítimas da chamada “síndrome do bebê chacoalhado” porque têm mais
cólicas e choram muito.
A equipe de saúde multidisciplinar do Instituto da Criança, que inclui
médicos, enfermeiras, assistentes sociais e psicólogos, é treinada para
diferenciar uma violência de um possível acidente. “O atendimento deve ser bem
detalhado, porque 60% das vítimas voltarão a ser agredidas”, alerta Cardoso.
Mudanças repentinas de comportamento das crianças são fortes indícios de
que elas podem estar sofrendo algum trauma. “É fundamental ficar atento a essas
alterações, como dificuldades de se alimentar e dormir, ou introspecção,
timidez e passividade exagerada”, destaca o médico, acrescentando que, às
vezes, as pessoas nem desconfiam dos verdadeiros agressores. “Pequenos detalhes
que as crianças emitem podem ser fundamentais para evitar uma tragédia, pois
estatísticas mostram que 5% das vítimas de maus tratos acabam morrendo na mão
dos agressores”.
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