“Aconteceu
em 1996, quando eu tinha 11 anos."
Eu morava em um apartamento com meus pais e minhas irmãs,
meu pai havia sofrido um derrame há poucos meses e estava de cama. Eu tinha um
quarto só pra mim, mas nesse dia o dividia com a minha avó que estava visitando
nossa casa.
Não lembro que dia era - era um dia qualquer da semana, um dia comum.
Não lembro que dia era - era um dia qualquer da semana, um dia comum.
Era madrugada e minha avó e eu dormíamos. De repente alguém entra
no quarto sem acender a luz, eu me assusto e fico calada achando ser um ladrão. Me encolho debaixo das
cobertas tentando me esconder, mas alguém puxa o edredom e começa a me tocar. As
lágrimas rolam em meu rosto, mas eu sequer me mexo. Até hoje não entendo o
porquê, mas não consegui me mexer. Ele me beija, sobe em cima de
mim, abre minhas pernas e então tenta me penetrar. Eu era virgem, era apenas
uma menina e nem sabia o que era aquilo. Ele tenta de novo e ainda assim
não consegue. Então força e eu grito, mas ele impede que meu grito
ecoe tapando minha boca - foi horrível.
Eu não sei quanto tempo
ele ficou ali, ele não disse uma palavra sequer enquanto me penetrava,
apenas gemia - e eu chorava - parecia uma eternidade. Finalmente ele
terminou, me beijou novamente e então falou - nunca me esqueci -
"você sabe quem está aqui? Sou eu, seu tio. Fiz isso porque te amo
e sabia que estava preparada e ia gostar".
Amanheci no
banheiro com vergonha de mim, com medo, sem saber o que fazer. Não podia contar para o meu pai, ele estava
doente. Então, chamei minha mãe que me disse "você está
louca, menina!". As lágrimas invadiram meus olhos e eu disse “mãe, a
vó viu, pergunta para ela”. Mas,
minha avó disse o mesmo - que era loucura minha - e eu ganhei uma bela
surra por isso.
Nunca mais fui a mesma. Parei de estudar aos 13 anos, me
envolvi com drogas e bebidas e fiz muito sexo. Queria que alguém me amasse e até hoje acho que através do sexo recebo amor. Nunca consegui me relacionar tranquilamente com ninguém. Sou mãe de 3 filhos de relacionamentos diferentes.
O que isso mudou na minha vida? Tudo.
Sou uma mulher frustrada, obesa, mãe solteira e que ainda
assimila sexo com amor. Sou completamente infeliz.
O estupro não violou só meu corpo, violou minha vida e minha alma. Eu era apenas uma menina que queria casar virgem
e ser amada e feliz.
Até hoje busco entender o que eu fiz pra causar aquilo,
ainda me sinto suja e envergonhada.”
Por que publicar esse relato?
Após
publicar as histórias das
repórteres do Bolsa de Mulher que já foram vítimas de abuso, passamos a receber
uma infinidade de relatos tristes. Muitos deles envolvendo abuso sexual de crianças.
Esse é um
dos tantos que mexeu com a equipe do site. Porque era uma criança.
Porque nenhuma mulher, muito menos uma criança, merece ou é culpada por um
abuso. Enxergamos a importância em divulgar essas histórias que chegam a
nós, com o consentimento das vítimas e sem identificá-las, para levar o
debate de um tema tão importante para nossas leitoras.
A publicação
deste e de outros relatos tem como objetivo conscientizar todas as mulheres
vítimas de abusos, sejam eles psicológicos, físicos ou sexuais: nós não somos
culpadas pelas violências das quais fomos vítimas. Além de também alertar as
famílias para uma triste realidade: a
maior parte dos abusos sexuais acontecem dentro de casa ou são cometidos por
pessoas próximas às vítimas.
É preciso
falar mais sobre o tema para sabermos que ele não está tão distante de nossa realidade
como muitas vezes pensamos. Todas podemos
ser vítimas. Nossos filhos também. Como vamos evitar isso?
Tornando essas histórias cada vez mais públicas, humanizando as vítimas e
denunciando. Nos tornando conscientes dessa realidade alarmante.
Abuso infantil
A pedofilia
comumente é caracterizada como abuso sexual infantil, ato ou jogo sexual
envolvendo um ou mais adultos e uma criança ou adolescentes. Informações da
organização Children’s Rights revelam que, por ano, quase 2 milhões de crianças
ao redor do mundo são vitimas da violência doméstica.
Os dados
alertam para um grave problema: na maioria dos casos, os agressores estão muito
perto dos violentados. Quando falamos de crianças, o problema é ainda maior já
que, com menores condições e artifícios de defesa, elas se tornam vítimas mais
fáceis e frágeis.
Ainda de
acordo com a organização, entre os impactos dessas experiências estão problemas
psicológicos e transtornos mentais graves. Além das possíveis consequências
físicas, as estrutura psíquica e emocional do indivíduo é completamente
alterada e a superação do ocorrido, como foi possível ver com o relato da
leitora, difícil e dolorosa.
É por isso
que todos aqueles que vivem cercados de crianças ou adolescentes – sejam pais,
professores, familiares ou amigos - devem estar sempre atentos. A criança,
quando está passando por situações de abuso, dá sinais e é necessário saber
quais são eles – e nunca, em hipótese alguma, duvidar de suas confissões.
Baixa
auto-estima, ansiedade, agressividade, timidez excessiva e depressão são alguns
indicativos de que alguma coisa está indo mal com o desenvolvimento daquele
indivíduo. Investigação, acompanhamento e diálogo são essências nesses casos.
Como denunciar casos de abuso
infantil?
Para denunciar
casos de pedofilia é possível ligar gratuitamente no
número 100 – disque denúncia nacional da Secretaria dos Direito Humanos do
Ministério da Justiça (a mensagem também pode ser enviada por e-mail para disquedenuncia@sedh.gov.br).
Além disso, o conselho tutelar da cidade pode ser acionado junto com a
realização de uma queixa na Polícia Militar, com a elaboração de um boletim de
ocorrência.
E você? Já foi vítima de abuso?
Falar sobre as experiências pelas quais
passamos é um processo importante para aceitar o que aconteceu e também para
superar. Além disso, é muito importante para ajudar outras pessoas a
enfrentarem essa situação e conscientizar a população sobre o problema. Foi
isso que pensamos ao decidir criar espaço no site para essas histórias.
Também queremos saber a sua. Fique à vontade para se abrir. Envie um e-mail
para a nossa redação (através do redacao@bolsademulher.com) e
compartilhe o que você nunca contou para ninguém. Se você permitir, contamos
sua história para outras leitoras, sem nenhuma identificação.
FONTE: BOLSA
DE MULHER
http://www.bolsademulher.com/abusos-sexuais/tinha-11-anos-e-era-virgem-meu-tio-me-penetrou-me-senti-suja-e-minha-mae-nao/?utm_source=facebook&utm_medium=manual&utm_campaign=BolsaFB