“Dos nossos planos é que tenho mais saudade
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora
Além de aqui,
Dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil eu sem você
Porque você está comigo o tempo todo”
(Vento no Litoral – Renato Russo)
Demorei um tempo para poder falar, pois ainda estou me
recuperando do susto
Há cinco anos, nascia no meu coração o Projeto Brasil Sem
Pedofilia. Ante a descoberta de que uma criança do meu convívio havia sofrido
abuso sexual, bati na porta do Conselho Tutelar por julgar que eles teriam a
obrigação de dar uma solução mágica e imediata para o problema.
Fui atendida pelo conselheiro Edmilson Ventura, que tratou
de me explicar como as coisas funcionavam e a precariedade das ferramentas que
o conselho dispunha naquela época para trabalhar. Não obstante as dificuldades,
havia uma vontade enorme de pessoas vocacionadas e bem preparadas que
trabalhavam (e muito) apesar das dificuldades.
Através do exemplo daquele conselheiro resolvi que
efetivamente deveria fazer algo para lutar efetivamente pelos direitos das
crianças e adolescentes e, principalmente, lutar por um BRASIL SEM PEDOFILIA.
Desde então passei a estudar e me dedicar exclusivamente ao
tema e tive Edmilson como inspirador, mentor, orientador, exemplo e, acima de
tudo, um grande companheiro de luta e de vida.
Tudo o que foi feito desde então, foi a quatro mãos. Na
maioria das vezes por telefone, internet. Muitas outras vezes em intervalos
entre o meu trabalho e os atendimentos dele e algumas outras em meio à diversão
e muito riso.
Todos os planos futuros também estavam planejados a quatro
mãos.
Assim tocávamos esse lindo projeto, esse sonho real, até
que na última quarta feira, Edmilson nos deixou de forma inesperada.
Seu maior legado é, sem dúvida, a luta pelos direitos das
crianças e adolescentes. Mas há muito mais:
O jornalista brilhante, o ativista aguerrido, o líder que
lutava incansavelmente para melhorar as condições de vida do local onde nasceu
e foi criado, o amigo verdadeiro, a risada mais gostosa, a alegria de viver, os
gestos e comportamento elegantes.
É fácil falar que a vida continua, mas na prática não é bem
assim.
Como tocar sozinha, um projeto que era nosso? Como sonhar
sozinha, um sonho que era de nós dois? Como sobreviver a uma dor e uma tristeza
tão profundas?
Meu brioso amigo, tenha certeza que procurarei corresponder
a tudo o que você esperava de mim. Te agradeço por ter acreditado em mim quando
ninguém achava que daria certo. Agradeço a Deus por ter feito nossos caminhos
se cruzarem por uma causa tão nobre.
Todo meu amor, carinho e reverência a você Edmilson
Ventura!
Cláudia Sobral – 24/11/2015