Crimes como estupros e assédio sexual seriam praticados no ambiente
escolar
Lá, crianças vão aprender a ler e escrever e a virar cidadãos. Mas o perigo
ronda os estabelecimentos de ensino. Além dos problemas comuns de violência em
portas de colégios, hoje outro problema aflige estudantes: são frequentes os
casos de professores acusados de pedofilia. Crimes como estupros, atentados
violentos ao pudor e assédio sexual são praticados contra crianças e
adolescentes no ambiente escolar.
Mais de 80 casos de professores acusados de pedofilia foram
acompanhados nos últimos cinco anos somente pela Secretaria de Educação do
Estado de São Paulo e pelo Apeoesp (Sindicato dos Professores no Ensino Oficial
de São Paulo), segundo informações de educadores. O R7verificou ao menos 14 desses
casos envolvendo docentes, por meio de boletins de ocorrências e inquéritos em
delegacias, além de processos criminais na Justiça ou administrativos na
Secretaria de Educação. Os acusados, na maioria dos casos, foram afastados da
sala de aula.
Há
denúncias diversas: professores que tiveram relações sexuais com alunas de 14 e
15 anos, até em vestiário da escola; outro levou um menino de 11 anos à
sua casa para praticar abusos, outro teria dado R$ 10 a um garoto em troca de
sexo oral e outros tocaram em órgãos sexuais de alunos. Há também docente
que teria tentado agarrar e beijar a aluna à força ou assediado menores de
idade por meio do Facebook.
A
Secretaria de Educação não confirma o número de 80 denúncias citadas por
educadores e diz que só pode responder sobre casos e processos específicos. O
órgão do governo garante que “age com rigor em relação a todas as denúncias
recebidas e que não compactua com quaisquer formas de constrangimento e de
violação de direitos”.
O
Sindicato dos Professores do Estado não fala sobre o assunto. A entidade tem
oferecido advogados de sua equipe para defender os acusados e alega não poder
abandoná-los.
ABC paulista
Em Santo
André, no ABC paulista, um professor de física e matemática da Escola Estadual
Clotilde Peluso foi acusado, em junho, de manter relações sexuais com a aluna
A., 14 anos. Segundo a mãe da menina, identificada apenas como L., o professor
costumava levar várias outras alunas menores de idade à sua casa.
— Eu já
havia alertado a direção da escola de que ele estava saindo com minha filha e
com outras meninas. A escola não fez nada. Foi a primeira vez que minha filha
teve relação sexual e eu fiquei possessa. Isso é abuso de poder. Fui à
polícia denunciar para que isso não continue acontecendo. O pior é que a
direção da escola, antes desse fato acontecer, disse que não tinha problema o
que vinha ocorrendo porque o professor era bonito, esse tipo de coisa acontecia,
era uma fantasia e coisa passageira.
O caso foi denunciado à Delegacia da Mulher de Santo André, ao Conselho
Tutelar da cidade e à direção da escola. A diretora do colégio, que se
identificou apenas como Sueli, informou que o professor está afastado. Ela
disse que “não aconteceu nada dentro da escola” e lá, “não há nada que desabone
o professor”. Questionada se consideraria normal o professor sair ou manter
relações sexuais com aluna menor de idade, ela respondeu:
— Eu desconheço qualquer coisa que tenha acontecido fora da escola.
Histórias como a de A. repetem-se em outros colégios. Professores
jovens, tidos como “boa-pinta” e metidos a galã, chamam a atenção de alunas e
passariam a tirar proveito da situação. O docente da Escola Clotilde Peluso se
enquadraria nesse perfil, conforme a denúncia. Por tê-lo acusado, A. chegou a
ser hostilizada por outras colegas, que foram à sua casa protestar.
Depois, teve que mudar de colégio.
Zona leste de SP
Na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste de São Paulo, o professor de
educação física A. C. J. foi acusado de manter relações sexuais com a menina
P., 14 anos, em um vestiário. Ela e uma outra colega da oitava série, R.,
contaram que o professor costumava atrair meninas de 12 e 14 anos ao local. Lá,
segundo afirmaram, A. as beijava e abraçava e pedia para que elas o
masturbassem.
O professor foi afastado da escola, respondeu a um processo criminal por
causa da denúncia e foi absolvido. O juiz da 4ª Vara Criminal do Fórum da Barra
Funda, região central de São Paulo, entendeu que não havia comprovação da
ocorrência de ato sexual nem que teria havido violência.
O professor afirmou que as acusações “eram descabidas” e, por isso,
“nada foi provado”. A mãe da jovem, que se identificou apenas como D.,
discordou da decisão da Justiça.
— A gente fica revoltada. Mas já sofremos muito com o caso. Era muito
doloroso quando tínhamos de depor. Deixamos pra lá, para não prejudicar mais
minha filha.
São Caetano
Em São Caetano do Sul, também no ABC paulista, o professor C.S., da
Escola Idalina Macedo Sodré, foi indiciado em inquérito policial pela acusação
de tentar agarrar e beijar à força a aluna G., de 15 anos. Segundo a estudante,
o professor teria pedido para ela ir ao laboratório de química depois do final
da aula para “vistar um trabalho”. Em sua defesa, o professor disse que a porta
do laboratório permaneceu aberta “e dois outros alunos permaneceram na
entrada”. Procurado, ele disse que não falaria sobre o assunto.
Na escola, uma professora e uma funcionária, que não quiseram se
identificar, defenderam C.S.
— As alunas adolescentes costumam assediar professor.
Procurados, os pais da menina também não quiseram dar declarações.
Até diretores de colégios são denunciados. Na Escola Estadual Professora
Leila Sabino, na zona sul de São Paulo, no final do ano passado, o então
diretor P.M.N. foi acusado de pedir a uma aluna de 12 anos para que se exibisse
em um vídeo em poses sensuais, de calcinha e sutiã. Outras garotas menores de
idade também teriam sido incentivadas a posar da mesma forma.
O diretor, de acordo com a acusação, teria feito ameaças às meninas, por
meio do Facebook, usando o codinome Carol. Teria ameaçado o irmão de uma delas,
caso as garotas não produzissem o vídeo. A mãe de uma das alunas, de
13 anos, que não quis se identificar protestou.
— É um absurdo acontecer uma coisa dessas dentro da escola.
Após o caso, o diretor foi afastado.
Interior
Em Campinas, um professor da Escola Estadual Newton Oppermann foi
acusado de abusar sexualmente de crianças de dez e 12 anos. Um dos
alunos filmou os atos praticados na sala de computação da escola e encaminhou o
vídeo para a Delegacia da Mulher na cidade.
Em Jacareí, no Vale do Paraíba, dois professores foram processados na
Justiça por abusos contra menores. R. L., 41 anos, professor de química e
biologia, foi acusado de manter relações sexuais com o menino M., de 11 anos. O
professor teria levado o garoto para passar a tarde em sua casa, com o
consentimento da avó. Ele já havia respondido a um processo em 1992 por um
crime semelhante. Procurado, o professor não quis falar sobre a denúncia.
C. P., professor de português e francês, foi preso em flagrante por
policiais militares, dentro de um carro. Ele estava com o garoto
R.P., de12 anos, e foi acusado de atentado violento ao pudor, ao
praticar sexo oral no menor, em troca de R$ 10.
Na casa do professor, policiais apreenderam um computador e
uma máquina fotográfica com fotografias e vídeos pornográficos de crianças
e adolescentes. O professor foi afastado das salas de aula em junho de 2011.
Ele passou sete meses na cadeia e agora pede na Justiça a sua reintegração à
rede de ensino.
Já o professor de geografia G.C.S., de Franco da Rocha, foi preso pela
operação Carrossel, da Polícia Federal, em 2007, por manter em seu computador
fotos e vídeos pornográficos de crianças e adolescentes. G. alegou que
pretendia usar o material em sala de aula para “conscientizar os alunos” sobre
o que é pedofilia.
— Era um trabalho, eu tentava esclarecer. Muito do que estava lá é
considerado criminoso, mas é normal em outros países.
Outro caso envolve uma escola municipal: em abril do ano passado, um
professor de educação física foi acusado de tocar no órgão genital do menino
P., de quatro anos, na Escola Francisco Mariano de Almeida, em Capela do Alto,
a cerca de 130 km de São Paulo. O garoto contou para os pais, que registraram
queixa na delegacia. Os pais do garoto afirmaram que querem “esquecer o caso”.
Sobre os casos na rede estadual, a Secretaria de Educação de São Paulo
informou, em nota, que a Diretoria de Ensino de Santo André instaurou apuração
preliminar para apurar a conduta do professor da Escola Clotilde Peluso a fim
de que “sejam tomadas as medidas cabíveis”. Em relação ao professor da Escola
Estadual Newton Oppermann, de Campinas, também há um processo administrativo em
andamento. O professor está preso e foi afastado do cargo, sem direito a
remuneração.
Os professores R. L (de Jacareí) e A.C.J. (da zona leste
de São Paulo) também responderam a processos administrativos e foram
dispensados do serviço público, conforme a secretaria. A.C.J., antes dessa
medida, pediu exoneração do cargo. Sobre os professores C. P. (também
de Jacareí) e G.C.S. (de Franco da Rocha) e o diretor de
escola na zona sul da capital P.M.N ., a secretaria informou que os três
respondem a processos administrativos e desempenham interinamente atividades
administrativas “nas diretorias regionais de ensino em que atuam”. A secretaria
diz aguardar a conclusão desses processos para “evitar prejulgamento e outras
possibilidades de prejuízo ao procedimento”.
No caso de C.S., de São Caetano, a secretaria disse que o processo
administrativo foi arquivado “por falta de recursos que comprovassem as
acusações”. Na polícia, esse inquérito ainda não foi concluído e o Ministério
Público pediu para ouvir novamente os alunos da escola.
http://noticias.r7.com/sao-paulo/noticias/exclusivo-dezenas-de-professores-sao-suspeitos-de-pedofilia-em-escolas-de-sp-20121006.html
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