Fica-se sabendo pouco sobre a
vida privada dos repórteres que investigam os casos de pedofilia acobertados
pela Igreja Católica, no filme “Spotlight”. Talvez para não desviar nossa
atenção do que interessa, as idas e vindas, magnificamente filmadas, da investigação
em si.
A mesma preocupação em fixar-se na
trama deve explicar a ausência de maiores detalhes sobre o que significava, em
termos de audácia jornalística e pura coragem, enfrentar o assunto — que
começou municipal antes de se tornar internacional em Boston, o epicentro de
uma certa cadeia de cumplicidades (tradicional corrupção política abençoada por
uma igreja conservadora e poderosa, tudo quase absolvido pela simpatia
irlandesa), de cuja força só se tem pequenos vislumbres, no filme.
Foi em Boston que começou a
dinastia dos Kennedy, com o patriarca Joseph, notoriamente ligado ao crime
organizado e que, dizem, comprou o cargo de embaixador americano em Londres
para si e, depois, a Presidência dos Estados Unidos para o filho John. Seu
filho mais moço, Edward, acabou sendo um representante de outra tradição
política da Nova Inglaterra, onde fica Boston: a do engajamento social. Edward
deixou um respeitável currículo de esquerda, como senador. Mas Joseph Kennedy
personificou como ninguém a aristocracia bostoniana, devota e criminosa, que o
filme, de certa forma, poupa.
“O melhor de 'Spotlight' é que a
investigação é o filme. Assim como pouco vemos vida pessoal dos investigadores,
não vemos nenhum flashback com cenas de sedução de menores. Não há
vilões na trama. O que vemos são as vítimas, as consequências.
O filme não precisa de monstros —
a grande monstruosidade é o acobertamento. E o maior escândalo mostrado pelo
filme vem no fim, nas legendas que mostram o desdobramento das revelações
publicadas, e pelas quais ficamos sabendo que o cardeal banido de Boston pela
sua inação diante dos crimes foi para um alto cargo no Vaticano.
por Luis
Fernando Verissimo
para Zero Hora
para Zero Hora
http://www.paulopes.com.br/2016/01/filme-mostra-monstruosidade-da-protecao-aos-padres-pedofilos.html#.VqVia38wjIV
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