ALGUÉM PRECISA PARAR
ESSE CARA. ELE PRECISA SER PRESO!
“SEXO COM CRIANÇAS É BOM”
Published on 24/04/2014 by Paulo
Ghiraldelli
As
crianças adoram imitar símbolos sexuais e pessoas que cantam utilizando o que
alguns chamam de pornografia. As crianças possuem desejo sexual e possuem
prazer libidinal desde a mais tenra idade. No entanto, quando elas mostram o
seu gosto por uma cantora que remexe a bunda loucamente ou por uma bandinha que
fala palavrão ou faz gestos obscenos, elas estão muito longe do sexo. O sexo
entra aí por obra dos pais e moralistas de plantão (moralistas não no sentido
filosófico). Eles e somente eles, esses adultos, fazem a correlação inexistente.
O mundo
sexual das crianças existe, não é vazio. Freud disse isso e essa lição só não
foi aprendida por quem mora em um buraco de tatu ou tem o cérebro igual ao de
uma minhoca. Mas o mundo sexual da criança é um mundo que não corresponde ao
que o adulto entende como sexo. A criança brinca e a brincadeira tem como barro
o exagero da imaginação. Quando ela vê o comportamento corporal diferente, que
o adulto toma com dança sensual ou, para alguns, obscena, ou quando ela vê a
linguagem alusiva ao sexo, que o adulto pode chamar de palavrão, ela, a
criança, logo percebe que estão aí armas que desarmam o adulto. Ela nota que
são elementos que tiram o adulto da sua costumeira apatia. Ora, por que então
não se aproveitar disso para também receber atenção? E por que não rir
disso, na hora que dá certo?
Em outras
palavras: a arquitetura semântica da criança não é a do adulto.
Carla
Perez e os Mamonas foram ícones infantis dos anos noventa, como agora pode uma
Valesca Popozuda fazer sucesso. Xuxa e Carla Perez foram bonecas de brinquedo
para crianças. Valesca Popuzuda e Anita são bonecas para as crianças. Renato
Aragão cansou de fazer gestos obscenos no horário nobre da Globo e ser imitado
por crianças. Com isso, esteve junto com Xuxa durante anos no cinema ,
fazendo filme para crianças. Se a arquitetura semântica infantil é algo
particular, também suas telas de janela, para a proteção de insetos, são
especiais. A criança filtra com seus filtros.
Lembro
que a Marta Suplicy esteve em um “Roda Viva” da TV Cultura, nos anos oitenta,
para dizer que Xuxa sexualizava a vida infantil, e que uma tal precocidade iria
trazer problemas para todas as crianças, justamente os que hoje são os adultos
mais jovens que eu. Minha filha e minha esposa foram criadas vendo Xuxa. Não
creio que Xuxa fez mal a elas. O que Xuxa fez de sexo com Pelé e Airton Sena
não tinha nada a ver com Xuxa rebolando na TV. Pelé e Airton Sena não estavam
com Xuxa “de brincadeira”, mas minha esposa e minha filha estavam. Marta
Suplicy era sexóloga nesse tempo! Meu Deus! Que sorte que isso passou!
Mas, ainda
hoje, de vez em quando, surgem por aí os que querem repetir Marta na sua fase
pudica, feminista e ligada aos inícios do politicamente correto. Ela própria
abandonou tudo isso. A juventude abandonou tudo isso. Mas a linguagem que temos
hoje ainda não espelha uma boa semântica da vida atual. Somos mais livres
sexualmente, bem mais, mas nossa linguagem ainda está presa a cânones de um
moralismo anterior ao dos anos oitenta. Fazemos uma coisa, mas a descrevemos de
modo diferente, às vezes até para nós mesmos. Então, não raro, algumas pessoas
que olham o sexo e as crianças, ou o sexo e a juventude, hoje, enganadas pela
linguagem, se deixam levar por essa defasagem semântica e acabam prevendo
práticas e crimes que não ocorrem.
Notamos
isso no combate hoje exagerado ao que chamam por aí, erradamente, de
“pedofilia”. A violência contra a criança é tomada como sexual, e o que às
vezes nem abuso é, acaba pode se denominado de “pedofilia”, palavra que na
letra da lei não expressa crime, mas que é tomada como crime e pecado pelos
adultos pouco reflexivos. A culpa de tudo isso? Para as vozes da ignorância que
predominam hoje em dia na mídia, muita coisa vem de algo parecido com o que
Marta Suplicy dizia no passado: sexualização precoce. Vem também, para essas
mesmas pessoas, do que ela não dizia, mas que é dito pelos pastores ridículos
atuais: a taradização do mundo. Nunca houve tantos tarados como há hoje, dizem.
Uma bobagem em termos de estatísticas. Todo adulto que encosta a mão em uma
criança hoje é “pedófilo”! E isso só tende a ser retroalimentado. Claro! Hoje,
pela lei, nem a professora pode segurar uma criança em uma briga ou limpá-la
quando ela vai ao banheiro. Pois o corpo da criança ficou intocável de um modo
irracional. Assim, qualquer toque é algo do “abuso sexual”, algo do “pedófilo”,
não mais da necessidade pedagógica e do cuidado.
De um
lado, as crianças são protegidas de algo que elas não sabem o que é, pois elas
não olham para o sexo como
problema – e não é mesmo! Por outro lado, os adultos são postos todos como
criminosos, porque a linguagem sobre a infância, o corpo e o sexo tem ido por
um caminho errado, de moralismo barato e de completa falta de reflexão menos
carola. O resultado disso é uma esquizofrenia total da sociedade. O sexo deixa
de ser prazer e pecado e se torna crime. É o pior dos mundos.
Esse
mundo que vivemos tem de acabar. Uma revolução na linguagem, capaz de
incorporar o que já é feito na nossa prática comportamental, é necessária.
Psicólogas pudicas, pastores hipócritas e colunistas que ligam sexo à posição
política, não sabem de nada. Como não querem aprender, deveriam ficar calados.
Da minha
parte, ou seja, da parte do filósofo que não é celibatário nem pudico e muito
menos um boboca ou um babaca, o esforço é no sentido de conversarmos sobre
nossas práticas comportamentais, inclusive a do sexo, sem que tenhamos de dar
voltas e mais voltas, sem que tenhamos que mentir demais. A mentira em exagero
cria uma verdade. Essa verdade não ajuda em nada, não vamos ser mais felizes
por causa dela.
Paulo
Ghiraldelli, 56, filósofo, autor de A filosofia como crítica da cultura (Cortez).
http://ghiraldelli.pro.br/sexocomcrianca/
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