Atenção, professores, vocês sabem como agir diante de um
possível caso de abuso sexual contra os seus alunos? Saiba o que fazer e
compartilhe com os seus colegas de profissão:
Para a educadora italiana Rita Ippolito, há quase duas
décadas no Brasil e organizadora do Guia Escolar: Métodos para identificação de
sinais de abuso e a exploração sexual em crianças e adolescentes (2003), uma
publicação conjunta da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e do Ministério
da Educação, a prática da cidadania passa pela escola; os professores e
educadores são os protagonistas desse processo, que envolve o respeito ao
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a garantia dos direitos de seus
alunos. Assim, é possível que, em algum momento, o educador se depare com uma
criança em situação de abuso sexual. O que fazer? A seguir, algumas breves
orientações.
Suspeita – “Se o professor tem uma suspeita, é importante
que ele fale com o aluno”, afirma Rita. “O primeiro interlocutor fundamental é
a criança e, para isso, o educador precisa conquistar sua confiança. Afinal, se
o menino ou a menina sofreu de fato um abuso, pode considerar aquele adulto
também como um inimigo.”
Relato – “Uma vez que a criança deposite a confiança
naquele adulto, vai contar o que está acontecendo com ela”, diz Rita. É
importante que a conversa aconteça num ambiente tranquilo e seguro, sem
interferência de outras pessoas. O professor deve se manter calmo, sem reações
extremadas, para não influenciar o relato do aluno. “Se for necessário, deve
pedir ajuda à direção da escola, sempre com discrição.”
Família – “É preciso entrar em contato com a família; mas,
antes, o professor precisa ouvir da criança quais são as pessoas que ela aprova
como interlocutores.”
Notificação – “Não difundir a história e agir com muita
discrição, porque é um caso extremamente delicado. Também é necessário
compreender exatamente o que está acontecendo com a criança”, diz Rita. “No
momento em que tiver todos os indícios de que se trata mesmo de abuso, o
educador deve avisar a família e notificar o Conselho Tutelar.”
Cuidado com a criança – “A criança é prioridade em toda
essa história. É a parte mais vulnerável, pois passa a sentir culpa e pressão por
parte da família” afirma Rita. “Muitas vezes, alguns familiares minimizam a
violência à criança como se fosse um problema menor. Por exemplo: ora, como
acusar o chefe da família de abuso? Por isso, a escuta, o acolhimento e a
proteção do professor àquele aluno se torna muito importante. A criança se
sente mais segura, se há alguém que conhece todas as minúcias de sua situação.”
Reinserção na escola – De acordo com Rita, caso a situação
não tenha sido tão traumática, é possível trabalhar um programa de redução de
danos para aquela criança abusada. “O histórico de abuso deve ser mantido em
sigilo. É essencial respeitar a privacidade da criança. Além disso, o professor
deve trabalhar a solidariedade, o respeito mútuo, compreender o tempo interno
dessa criança e fazer com que ela não seja discriminada nem isolada, sendo
capaz de continuar na escola e interagir normalmente com as outras crianças.”
Instituição – “O professor também precisa de suporte. Às
vezes, sozinho não consegue fazer um acompanhamento adequado. Por isso, a
instituição deve apoiá-lo e motivá-lo. A formação dos profissionais também se
faz fundamental: saber lidar com situações de violência sexual e como atuar, a
quem notificar, além de compreender o que é infância no século 21, o que diz o
ECA, quais as condições sociais de seus alunos, como são suas famílias e o que
fazer para garantir os direitos dessas crianças dentro da escola.”
Prevenção – Segundo Rita, é importante que as crianças e os
adolescentes se conscientizem da própria sexualidade, conforme as
características de cada faixa etária, e trabalhem a capacidade de falar de
situações de perigo e de dizer ‘não’. “Com a orientação recebida na escola, a
criança pode perceber se está sendo abusada e como ela é possível se defender”,
conta. “A sexualidade precisa deixar de ser aquele monstro, aquela coisa
terrível, e se tornar tema de diálogo, um assunto conversado dentro da escola
de forma natural.”
http://www.childhood.org.br/professor-como-agir-diante-de-um-possivel-caso-de-abuso-sexual
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