sábado, 14 de setembro de 2013

DAWKINS NÃO VÊ PROBLEMA NA “LEVE PEDOFILIA”. EU VEJO SÉRIOS PROBLEMAS EM DAWKINS!


Já li alguns livros de Richard Dawkins e confesso ter gostado. Seu uso da ciência para atacar as crenças religiosas me encantou por algum tempo. Uma carta sua para a filha de dez anos, ao término de Capelão do Diabo, parece uma ode ao pensamento crítico e independente.
Mas quando vejo tanto seu ateísmo militante (e chato ou mesmo intolerante) e também seu crescente relativismo moral, chego a questionar se os conservadores religiosos não estão certos quando falam do “drama do humanismo secular”. Será que os valores se perdem por completo sem uma régua mais, digamos, eterna?

Não vou tentar responder isso aqui e agora, mas vou expor a última de Dawkins, que considero realmente assustadora. O cientista teria dito que a “leve pedofilia” não é algo tão condenável assim. Usou como exemplo seu próprio caso na infância, quando um professor teria o colocado no colo e depois metido as mãos dentro de seu short.
Segundo o biólogo, o professor teria feito isso com vários alunos, mas não acha que nenhum deles sofreu algum tipo de dano permanente. Tampouco acha que pode julgá-lo com base nos critérios e valores de hoje, já que isso ocorreu há décadas atrás.

Curiosamente, o cientista estaria aliviando para o lado de padres acusados de pedofilia. Mas é um religioso que vem atacar o absurdo disso. Peter Watt, diretor na National Society for the Prevention of Cruelty to Children, disse:

O Sr. Dawkins parece pensar que, porque um crime foi cometido há muito tempo, devemos julgá-lo de uma maneira diferente. Mas sabemos que as vítimas de abuso sexual sofrem os mesmos efeitos se foi há 50 anos atrás ou ontem.

Há “progressistas” tentando relativizar a pedofilia.  O jornal britânico de esquerda, The Guardian, publicou um artigo no começo de 2013 chamado Paedophilia: bringing dark desires to light, em que é tratada como algo quase normal.

O jornal deu espaço para Sarah Goode, da Universidade de Winchester, expor sua opinião de que um em cada cinco adultos são capazes, em certo grau, de ser sexualmente despertados por crianças. Trocas “voluntárias”, entre um adulto e uma adolescente, passarão a ser vistas como algo aceitável no mundo “moderninho”. Engov!

Voltando a Dawkins, ele diz sobre o professor de sua infância: “Não acho que ele causou em qualquer um de nós dano duradouro”. Ouso discordar.

Em tempo: Dawkins é especialista em biologia evolutiva, mas pedofilia jamais poderá ser vista como algum tipo de evolução. Na verdade, é um atraso que nos remete à barbárie do século VII, quando certo profeta resolveu se casar com uma menina de 9 anos apenas!

Nota: A repercussão da coisa toda foi tão grande que Dawkins veio se explicar, colocando sua fala dentro de um contexto diferente. Menos mal. Mas o alerta continua válido: o relativismo moral dos progressistas tem levado a bandeiras bizarras nos últimos anos.



sábado, 24 de agosto de 2013

DICAS PARA OS PAIS MOSTRAM COMO OS FILHOS PODEM USAR A INTERNET COM SEGURANÇA


A cena já é mais do que comum: seu filho em frente ao computador horas a fio e você nem sabe muito bem o que ele está fazendo. A internet, além de fonte de diversão para as crianças, também é cheia de perigos e gente mal-intencionada. Isso não significa que você deva proibir a navegação online, mas é preciso ficar atento a algumas boas práticas. Veja a seguir dicas para pais sobre o uso seguro da internet pelas crianças

Proibir não educa
Existem pais que acabam recorrendo à proibição do uso da internet como forma de evitar a exposição dos filhos aos perigos da rede. No entanto, é preciso lembrar que o acesso não fica restrito à sua casa: a criança vai ter contato com a internet na casa de um amigo, na escola, via smartphone, iPod... A Safernet, ONG de defesa dos direitos humanos na internet, lembra que diálogo e orientação ainda são as ''melhores tecnologias'' para proteger seus filhos 

Estabeleça um diálogo contínuo e aberto
A segurança na internet deve ser sempre passada às crianças como uma orientação e não como simples regra imposta, alerta a Safernet. Isso é importante para que seus filhos entendam que estão fazendo algo para o próprio bem e não por mera obrigação. O importante, quando se trata de educar pequenos internautas, é transmitir valores éticos, que se mantêm os mesmos na vida virtual e também na ?real? 

Deixe o computador à vista
Uma dica simples, mas que pode ajudar no monitoramento das atividades do seu filho na internet é manter o computador em um local onde todos convivam, como a sala, por exemplo. O objetivo aqui não é espionar o que a criança faz, mas estar por perto para orientá-la sempre que necessário 

Facebook e Orkut: só a partir dos 13 anos
Não é à toa que redes sociais possuem regras sobre a idade mínima para cadastramento. A restrição existe justamente para proteger as crianças de conteúdo inadequado à sua faixa etária. O Facebook, por exemplo, não permite cadastro de menores de 13 anos. O Orkut, para quem tem entre 13 e 18, exige uma declaração de que os pais autorizaram o uso do serviço

Use softwares de controle parental
Existem programas que ajudam a controlar buscas por determinados termos e regulam o acesso a sites na internet. São ferramentas que auxiliam o controle dos pais, mas vale lembrar que elas não devem substituir a orientação e o diálogo com as crianças. Afinal, você pode instalá-los no computador da sua casa. E fora dela? O acesso à internet também ocorre na casa do amigo, via smartphone, LAN house, iPod... Caso opte por utilizar esses softwares, lembre-se sempre de mantê-los atualizados

Crie uma pasta de sites legais para visitar
Os navegadores de internet permitem a criação de pastas com atalhos para sites. Aproveite para manter um local com endereços confiáveis que podem ser visitados pelas crianças por conta própria. Você encontra uma lista desses sites na página do Guia para Uso da Internet Responsável.

Limite o tempo diante do computador
Estabeleça junto com seu filho um tempo limite para que ele passe no computador, assim como fazem para o uso de outros eletrônicos, como o videogame e a TV

Cuidado vem antes da curiosidade
Cibercriminosos sempre se aproveitam da curiosidade dos internautas para aplicar golpes. Portanto, é interessante ensinar seu filho a ser cuidadoso em vez de curioso ao receber e-mails com links e anexos, mesmo que tenham sido enviados por amigos. Ao clicar, a criança pode instalar sem querer programas espiões ou vírus no computador

Dados pessoais não devem ser compartilhados
Ensine a criança a não compartilhar dados pessoais como nome completo, endereço, telefone ou logins e senhas de acesso a serviços online. Até mesmo fotos publicadas em sites de relacionamento podem ser usadas por criminosos para identificar informações como em que escola a criança estuda e o número da casa onde mora

Conheça os amigos online do seu filho
Muitos sites com jogos online, mesmo aqueles dedicados exclusivamente ao público infantil, mantêm redes sociais. É importante acompanhar quem são os amigos ''virtuais'' da criança e ensiná-la a não compartilhar dados pessoais e senhas 

Acredite: criança sabe (quase) tudo
Nunca subestime o conhecimento das crianças ou sua capacidade de descobrir coisas por conta própria na internet. Em vez de adotar uma postura autoritária ou presunçosa, mostre para seu filho que você também está disposto a aprender junto com ele. É nessa hora que você tem oportunidade de ensiná-lo a ser cuidadoso na internet 
Dê o exemplo
Se você ensina seu filho a não clicar em qualquer link, por que então não faz o mesmo? Ao manter um comportamento seguro online, você evita que um computador de uso compartilhado pela família fique exposto a pragas da internet, como programas espiões que roubam dados de login, senha e cadastros

Fique esperto!
Mantenha-se sempre informado: existem sites que trazem dicas específicas para pais, educadores e crianças. A Safernet mantém uma cartilha online que pode ser acessada no site da instituição. Outro guia bastante completo com dicas é o Guia para Uso da Internet Responsável.

*Com informações da AVG Technologies, Safernet e Guia para Uso da Internet Responsável 4.0 


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

RITUAL MACABRO



Flânio da Silva Macedo, 9 anos, foi encontrado decapitado e com sinais violência sexual, na localidade de São Domingos, município de Brejo da Madre de Deus, no agreste pernambucano, em julho de 2012.
Segundo as investigações, a criança foi atraída por um casal, que foi contratado por um místico para entregar uma criança para um ritual macabro. Antes de ser morto, ele foi amarrado e abusado.
Genival Rafael da Costa, 62 anos, e Maria Edleuza da Silva, 51 anos, confessaram a participação no crime. Eles contaram à polícia que foram contratados por uma pessoa para entregarem uma criança que seria utilizada para uma oferenda satânica. Pelo serviço, o casal receberia R$ 400.
Eles disseram que o menino foi amarrado, teve um pano colocado em volta do pescoço, que foi apertado como um torniquete. A pressão separou a cabeça do corpo.

VÍTIMAS DE MORTES BRUTAIS E PRECOCES


Entre 1980 e 2010, a taxa de crianças e adolescentes assassinadas no Brasil cresceu 346%, segundo o Mapa da Violência divulgado em 2012 pelo Instituto Sangari. Foram 176.044 mortes por homicídio em 30 anos.
Em 2010, os assassinatos foram responsáveis por 22,5% do total de óbitos entre 0 e 19 anos. Ao todo, no ano, foram 8.646 crianças assassinadas, o que corresponde a uma média de quase 24 mortes por dia.
As causas das mortes brutais e precoces são as mais variadas: violência doméstica, rituais satânicos, operações policiais frustradas, assaltos, vingança, tiroteios, entre outras. 

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O QUE É ABUSO E EXPLORAÇÃO SEXUAL



O abuso e a exploração sexual são crimes graves, que deixam marcas profundas nos corpos das vítimas, como lesões, contágio por doenças sexualmente transmissíveis e gravidez precoce. Mais do que isso, a violência sexual prejudica profundamente o desenvolvimento psicossocial de crianças e adolescentes, gerando problemas como estresse, depressão e baixa autoestima. É dever da família, do Estado e de toda a sociedade protegê-los.
As crianças e adolescentes “avisam” de diversas maneiras, quase sempre não verbais, as situações de maus tratos e de abuso sexual.
Veja abaixo alguns indicadores na conduta da criança/adolescente que sofreu abuso sexual:
Sinais corporais:
·         Enfermidades psicosomáticas, que são uma série de problemas de saúde sem aparente causa clínica, como dores de cabeça, erupções na pele, vômitos e outras dificuldades digestivas que têm, na realidade, fundo psicológico e emocional.
·         Doenças sexualmente transmissíveis, diagnosticadas em coceira na área genital, infecções urinárias, odor vaginal, corrimento ou outras secreções vaginais e penianas e cólicas intestinais.
·         Dificuldade de engolir devido à inflamação causada por gonorréia na garganta ou reflexo de engasgo hiperativo e vômitos (por sexo oral).
·         Dor, inchaço, lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar, inclusive, dificuldade de caminhar e sentar.
·         Ganho ou perda de peso, visando afetar a atratividade do agressor.
·         Traumatismo físico ou lesões corporais, por uso de violência física.

Sinais comportamentais:
·         Medo ou pânico de certa pessoa ou sentimento generalizado de desagrado quando é deixado sozinho em algum lugar com alguém.
·         Medo do escuro ou de lugares fechados.
·         Mudanças extremas súbitas e inexplicadas no comportamento, como oscilações no humor entre retraída e extrovertida.
·         Mal estar pela sensação de modificação do corpo e confusão de idade.
·         Regressão a comportamentos infantis, como choro excessivo sem causa aparente, enurese (xixi na cama) e chupar dedos.
·         Tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica. Fraco controle de impulsos e comportamento autodestrutivo ou suicida.
·         Baixo nível de auto-estima e excessiva preocupação em agradar os outros.
·         Vergonha excessiva, inclusive de mudar de roupa na frente de outras pessoas.
·         Culpa e autoflagelação.
·         Ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de alerta, fadiga.
·         Comportamento disruptivo, agressivo, raivoso, principalmente dirigido contra irmãos e um dos pais não incestuoso.
·         Alguns podem apresentar transtornos dissociativos na forma de personalidade múltipla.

Sexualidade
·         Interesse ou conhecimento súbitos e não usuais sobre questões sexuais.
·         Expressão de afeto sensualizada ou mesmo certo grau de provocação erótica, inapropriado para uma criança.
·         Desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais e brinquedos.
·         Masturbar-se compulsivamente
·         Relato de avanços sexuais por parentes, responsáveis e outros adultos.
·         Desenhar órgãos genitais com detalhes além de sua capacidade etária.

Hábitos, cuidados corporais e higiênicos
·         Abandono de comportamento infantil, de laços afetivos, de antigos hábitos lúdicos, de fantasias, ainda que temporariamente.
·         Mudança de hábito alimentar – perda de apetite (anorexia) ou excesso de alimentação (obesidade).
·         Padrão de sono perturbado por pesadelos freqüentes, agitação noturna, gritos, suores, provocados pelo terror de adormecer e sofrer abuso.
·         Aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa.
·         Resistência em participar de atividades físicas.
·         Frequentes fugas de casa
·         Práticas de delitos
·         Envolvimento em prostituição infanto-juvenil
·         Uso e abuso de substâncias como álcool, drogas lícitas e ilícitas.

Relacionamento social
·         Tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e companheiros.
·         Relacionamento entre crianças e adultos com ares de segredo e exclusão dos demais.
·         Dificuldade de confiar nas pessoas à sua volta
·         Fuga de contato físico

O surgimento de objetos pessoais, brinquedos, dinheiro e outros bens que estão além das possibilidades financeiras da crianças/adolescente e da família pode ser indicador de favorecimento e/ou aliciamento.
Fonte: Guia Escolar – Rede de Proteção à Infância – Métodos para identificação de sianis de abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes – Ministério da Educação, 2004



sexta-feira, 7 de junho de 2013

VÍTIMAS DA PEDOFILIA

As consequências do abuso sexual infantil apresentam sintomas que podem aparecer em várias fases da vida

Este artigo colocará em discussão os danos psíquicos e emocionais decorrentes do abuso sexual infantil, com sintomas que podem aparecer na infância, adolescência ou na idade adulta.
É fato muito raro que as crianças ou os adolescentes, que tenham sido ou estejam sendo molestados sexualmente por um adulto, demonstrem ter a consciência do que está ocorrendo e procurem a ajuda de um adulto, seja um familiar, educador ou alguém com quem tenham um vínculo, com o intuito de denunciar os abusos de que estão sendo vítimas. Comumente tendem a guardar segredo, principalmente se o pedófilo for um parente, tal como pai, irmão, primo, padrasto ou um amigo que mantenha um forte vínculo de confiança com os pais.
Na mente infantil, que ainda está em desenvolvimento, o fato traumático, consequente do abuso sexual, e a necessidade da manutenção do segredo acarretam uma situação de forte angústia e alterações do comportamento. Isso acontece devido à incapacidade de um psiquismo em desenvolvimento, que é o da criança, poder elaborar o trauma emocional causado pela situação do abuso de que foi vítima.

O trauma emocional, não elaborado, aparecerá mais tarde, na vida dos indivíduos que foram vítimas desse tipo de abuso, sob a forma de sintomas e alterações do funcionamento psíquico das mais variadas formas, tais como: 

• Acentuado rebaixamento da autoestima, que se expressa sob a forma de descrença em si mesmo e grande dificuldade para reconhecer e valorizar seus potenciais afetivos e intelectuais.

• O rebaixamento da autoestima abre caminho para o surgimento de sintomas de depressão emocional, o que aumentará a descrença do indivíduo em si mesmo.

• A pessoa descrente de si mesma e, por consequência, descrente dos outros, desenvolve um profundo sentimento de desamparo afetivo, que, quando associado a sintomas depressivos, tende a gerar sentimentos de desesperança e ansiedade. 

• Os sentimentos de desesperança, desamparo e ansiedade, frequentemente, ocasionam crises de Ansiedade tipo Pânico ou, em muitos casos, a Síndrome do Pânico, que leva esses indivíduos a procurarem por ajuda psiquiátrica e ou psicoterápica, para resolverem o drama interno e o sofrimento psíquico de que são vítimas.

Além do que foi descrito, o trabalho psíquico com adultos que foram sexualmente abusados na infância, tem mostrado, com frequência, o fato de que essas pessoas, apresentando dificuldades para estabelecerem vínculos afetivos, tendem a se ligar a pessoas com graus de sadismo, que, de alguma maneira, reproduzem nos relacionamentos afetivos situações de violência física ou psíquica, humilhação, desprezo e desconsideração, para falar das mais frequentes, o que nos leva à indagação: Até que ponto esses adultos de que estamos falando, que sofreram com essa prática, ao se ligarem a pessoas que os maltratem, cometendo, inclusive, atos de abuso, não estão tentando resolver, psiquicamente, a situação da qual foram vítimas um dia, ou seja, o próprio abuso sexual?

Remo Rotella Jr. é médico psiquiatra e psicanalista. Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria e da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

http://psiquecienciaevida.uol.com.br/ESPS/Edicoes/89/vitimas-da-pedofilia-as-consequencias-do-abuso-sexual-infantil-290529-1.asp

NAS AMARRAS DO MEDO

Pesquisa conduzida com profissionais da rede pública de saúde mostra que mais da metade deles não notifica casos de violência infantil.


De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, todo profissional de saúde é obrigado a notificar os casos de violência, mesmo que seja uma leve suspeita.
Percentual inquietante: 68% dos profissionais de saúde não notificam casos de violência a menores, contrariando o que determina o Estatuto da Criança e do Adolescente. Apesar de não precisarem se identificar ou sequer comprovar a suspeita para fazer uma denúncia, a maioria libera as crianças agredidas sem qualquer intervenção.
É o que mostra pesquisa feita com 107 profissionais da rede pública de saúde de Olinda (PE). Dos 86% que já suspeitaram de violênciapelo menos uma vez, somente 36,4% notificaram. A pergunta central é por quê?
Foi a partir dessa indagação que o cirurgião-dentista João Luís da Silva, da Universidade Federal de Pernambuco, realizou o estudo, baseado em entrevistas a cirurgiões-dentistas, médicos e enfermeiros da Estratégia Saúde da Família (ESF) de Olinda.
Entre outubro de 2011 e fevereiro de 2012, ele endereçou 50 questões (por meio de questionário e entrevista) aos profissionais, não só sobre suas suspeitas e notificações, mas também se já haviam sido vítimas de violência em alguma época da vida, participado de discussões sobre o tema ou feito cursos em saúde coletiva.
O pesquisador relata que os profissionais de saúde reconhecem a enorme importância da notificação, mas se rendem ao medo de sofrer consequências. “Represálias e ameaças do agressor, fora e dentro do ambiente de trabalho, são as principais amarras dos profissionais”, observa. Ele constatou, no entanto, que aqueles que já fizeram uma denúncia não foram procurados depois. 
 Além do medo, foram apontados outros fatores que impedem a ação. “A falta de articulação dos postos de saúde com outros setores responsáveis, a burocracia do processo e a falta de retorno por parte desses setores foram queixas presentes nas entrevistas”, conta Silva.

SAÚDE ALÉM DA CLÍNICA


O interesse do pesquisador pelo tema surgiu de sua própria experiência. Quando cursava o último período da graduação em odontologia, atendeu no estágio um garoto de oito anos com traumatismo dentário. O menino disse que tinha se machucado ao fugir de um ataque violento da mãe, que o espancava frequentemente. A mãe, porém, alegava que tinha sido um acidente.
“Fiquei muito perturbado com a situação e perguntei à minha orientadora o que poderia fazer pela criança, além de tratar a lesão. Esperava algum direcionamento para lidar também com a questão da violência”, conta Silva. “Mas ela disse que não se podia fazer mais nada, que aquilo já não era da nossa competência. Essa situação me inquietou muito.”
Silva começou aí a pesquisar a legislação existente sobre como os profissionais de saúde devem agir diante de um caso de violência contra menores. “Descobri que pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, todo profissional de saúde é obrigado a notificar os casos de violência, mesmo que seja uma leve suspeita”, diz.
Durante seu mestrado, resolveu ouvir os profissionais de saúde para saber como agem frente a essa situação. “Quis lhes dar voz para que os gestores de saúde possam conhecer e atuar sobre as dificuldades encontradas quando eles decidem notificar situações de violência, melhorando assim o cuidado geral”, justifica.

DIRETRIZES DE NOTIFICAÇÃO


Muitos profissionais de saúde que testemunharam violência contra crianças não sabem como nem a quem fazer a denúncia. Segundo Silva, o tema da violência não é abordado na graduação, mas só na pós-graduação em saúde coletiva ou em oficinas promovidas por alguns serviços de saúde. “A cidade de Olinda já faz esse trabalho de sensibilização com os profissionais da rede pública. Por isso escolhi estudá-los”, diz o pesquisador.
As perguntas foram baseadas na ficha de notificação elaborada pelo Ministério da Saúde e distribuída a todos os postos da rede pública do país. No formulário, o profissional encarregado de notificar preenche o tipo de violência sob suspeita, o meio de agressão, o tipo de lesão causada e os dados pessoais do paciente.
Dali a ficha segue para a Secretaria Municipal de Saúde e para o Conselho Tutelar, que encaminhará o menor para outras instâncias (hospitais, psicólogos, delegacias ou casas de abrigo). A denúncia também segue para as Delegacias de Proteção da Criança e do Adolescente, que investigarão o caso.
O profissional não precisa se identificar, mas a Secretaria de Saúde exige o carimbo e o código da unidade de saúde, o que inibe a maioria deles, já que temem represálias também aos colegas e agentes comunitários que vivem nas áreas atendidas.
Apesar das grandes dificuldades que o sistema ainda precisa enfrentar, a obrigatoriedade da notificação reconhece a violência como um problema de saúde pública. Silva acredita que a sensibilização em relação a essa questão amplia a visão do profissional de saúde, que não deve ser apenas clínica. “Mas há de se analisar se é prudente e justo obrigar a notificação num cenário onde muitas vezes não há amparo e auxílio aos profissionais”, pondera o autor.

Camille Dornelles
Ciência Hoje/ RJ
Texto originalmente publicado na CH 303 (maio de 2013).