“Antes,
quando a mulher era violentada, ficava calada, porque não sabia dos seus
direitos e achava isso normal”, afirma Eliane Rodrigues, diretora de
Enfrentamento à Violência de Gênero da Secretaria da Mulher do Estado de
Pernambuco e Fundadorada Associação das
Mulheres de Nazaré da Mata – Amunam,
primeira ONG da Zona da Mata Norte de Pernambuco a lutar pelos direitos
femininos. Na semana do Dia da Mulher, ela afirma que avanços ocorreram desde
quando era menina e havia espaços proibidos para elas, mas há muito ainda a ser
feito. Ela alerta que as crianças precisam ser educadas desde pequenas sobre
seu valor e seus direitos, para formarem uma sociedade mais igualitária no
futuro.
O que podemos fazer hoje na infância para garantir que as mulheres
exerçam plena cidadania?
É
preciso começar a trabalhar as mudanças de comportamento a partir das crianças.
E também com adolescentes e jovens para garantirmos as transformações. Uma
menina educada em um ambiente de violência tem mais chances de reproduzir a
violência no futuro. Devemos levar esta discussão para as escolas e
instituições que possam divulgar cada vez mais a igualdade de gênero.
A mulher vítima de abuso sexual ou qualquer outro tipo de
violência na infância costuma internalizar que nasceu para ser humilhada,
violentada e, discriminada. Agora, mesmo se ela sofrer a violência, mas tiver
informação de que isso é errado e tiver meios de se defender, isso vai mudar a
maneira de ela pensar e vai conseguir reagir. Ela cresce com domínio de si
mesma e sabendo o que pode e quer. A menina precisa desde criança saber que ela
é a atriz protagonista de sua vida, e tem desejos que pode realizar. Ela
precisa saber o que é errado, e que ela como mulher tem direitos e deveres.
Uma mãe tem que entender que não pode reproduzir a violência
através de seus filhos. Não devem espancar uma criança, mas procurar conversar
ou uma forma de castigo
Que ações podemos estimular para a promoção da igualdade e
diminuição da violência?
Trabalhar
a autoestima de crianças e adolescentes, oferecendo não só discursos sobre cidadania,
mas também outras atividades e espaços onde ela possa se ver, conhecer suas
potencialidades. Quando ela tem oportunidade de praticar esporte, cultura e
lazer, ela já cresce mais participativa e com o senso crítico mais aguçado,
porque vê uma perspectiva.
Na periferia e nos subúrbios é muito comum que as mulheres não
se valorizem, porque o local onde vivem apresenta muitos problemas, como falta
de esgoto, energia e outros. Mas temos que mostrar o lado bom das comunidades e
estimular a cooperação entre elas. Não dá para olhar só a miséria do mundo.
Precisamos incentivar que todos podem sonhar e realizar os sonhos. Mostrar como
podem se esforçar para conseguirem trabalhar com o que gostam. Precisamos fazer
os olhos delas brilharem.
Quais os principais passos importantes que as mulheres deram nos
últimos anos, em sua opinião, e o que ainda precisa ser mudado para a mulher
exercer seu espaço de forma digna e plena?
A
participação da mulher no mercado de trabalho, assumindo postos de liderança,
com maior nível de escolaridade e entrando na discussão das políticas públicas
foi o que ocorreu de melhor. Outro avanço foi a promoção da denúncia da
violência. Hoje elas estão perdendo o medo de denunciar. A própria família não
estimulava que se fizesse isso, porque a mulher casava para ficar junto do
homem o resto da vida. A Lei Maria da Penha, com apenas cinco anos, tem ajudado
muito. Aqui em Pernambuco as penas têm sido muito bem aplicadas. Precisamos
avançar mais, no entanto, ocupando espaço maior na política, onde ainda somos
minoria e ficamos à mercê da decisão masculina.
As mulheres da classe alta também costumam denunciar?
A
violência e o abuso sexual ocorrem em todas as classes. Entre as moças pobres,
a família às vezes desencoraja por medo de ameaça e morte. Entre as mulheres
ricas, o problema é maior porque elas têm medo da vergonha que sentirão quando
a sociedade ficar sabendo que a mulher do “doutor fulano” foi espancada e
muitas ainda se submetem porque não querem perder privilégios.
Como as questões de gênero influem na
violência sexual?
Acabou
aquela história que por trás de um grande homem há uma grande mulher. Hoje, ao
lado de um grande homem existe uma grande mulher. Ela não é mais nem menos que
ele. As pessoas precisam entender que a cultura machista precisa ser abolida. A
mulher precisa formar uma sociedade mais solidária e feliz. Se ela estiver
contente, o homem ao lado dela também estará.
Há diferença de comportamento nas meninas que freqüentam projetos
sociais em ONGs e instituições das que não recebem este suporte?
É uma
diferença grande, porque quem participa de projetos sociais têm um outro olhar,
um outro saber. Quando vão para o mercado de trabalho têm mais oportunidade,
porque apresentam uma visão mais abrangente de mundo, sabem o que é bom ou
ruim. Elas têm conhecimento das políticas públicas, sabem fazer suas cobranças
e são mais participativas.
Você já sente avanços no comportamento das meninas de hoje em
relação a sua época?
Antes,
quando a mulher era violentada ficava calada e achava que isso era normal. Suas
filhas e netas reproduziam isso porque não sabiam que tinham direitos. Hoje,
elas sabem que nascemos para ser felizes. Há uma diferença muito grande. Anos
atrás, a mulher tinha que pedir autorização do marido para sair de casa. Uma
mulher não podia ir sozinha a um bar ou restaurante, mesmo que estivesse com
outras amigas e um homem só era mal vista, era coisa de outro mundo. As
relações, hoje, precisam ser respeitosas e sadias.
FONTE: CHILDHOOD
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