terça-feira, 10 de abril de 2012

PF INVESTIGA CASOS DE PEDOFILIA DIGITAL


A inocência transformada em dados virtuais e perdida por meio da rede mundial de computadores, onde existem diversos sites com conteúdo pedófilo. A pedofilia digital se enquadra no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) e sempre criminalizou a circulação das imagens envolvendo crianças e adolescentes em situações de sexo. E há alguns anos, passou a incluir também o armazenamento, ou seja, qualquer pessoa que armazenar tal material está cometendo o crime.
Para flagrar os pedófilos digitais, foi desenvolvido um software que age em programas de compartilhamento de arquivos. Esta busca identifica palavras-chaves que possam identificar suspeitos em potencial.
O software encontra quem digitou, por exemplo, ‘seven years old’ (7 anos de idade), entre outras palavras que são identificadas.
Em decorrência desta realidade perturbadora, foi deflagrada em 2008, em colaboração com a Interpol, uma megaoperação denominada Carrossel. Além de vários países europeus, o Brasil também foi alvo. Na oportunidade, foram cumpridos mais de 130 mandados de busca e apreensão no Brasil.
Em Tupã, já houve casos suspeitos de pedofilia digital. A Polícia Federal de Marília chegou a apreender alguns computadores, mas não foi divulgado o desfecho da ação, que transcorre em absoluto sigilo.

Redes sociais

Jovens utilizam redes sociais, como o Facebook e o Twitter, apenas com o intuito de bater papo, como um passatempo. Mas outros vão além e divulgam suas atividades rotineiras, fotos, profissão, estado civil, naturalidade e data de nascimento, entre outras informações pessoais, ou seja, resumem sua vida nessas redes sociais. Alguns, na inocência, por carência ou por ignorarem os riscos, marcam encontros às escuras. Dessa forma, o que seria um encontro amoroso pode se tornar um crime hediondo, porque muitos homens ou mulheres fantasiam as suas descrições, fazendo a pessoa do outro lado da tela acreditar em uma pessoa bondosa e atraente, mas pode se tratar de uma pessoa perturbada com instinto agressivo e com a intenção de sequestrar ou estuprar.
Crimes relacionados a internet estão se tornando cada vez mais comuns e acontecem em todo lugar, com pessoas de todas as idades, principalmente com jovens. Então cabe aos pais ou responsáveis zelar pela segurança do seu ente querido e coibir atitudes precipitadas, sempre com diálogo e atenção.

Perfil

Em relação ao perfil de quem pratica a pedofilia digital, é possível verificar somente dois pontos em comum: o gênero dos envolvidos e o conhecimento em informática. Segundo a Polícia Federal, quase 100% dos investigados são homens e com certa cultura de internet.
Outro traço recorrente é a negação. Na maior parte dos casos, os suspeitos alegam terem sido usados e que não sabiam do fato.
Existe uma fila de computadores aprendidos para serem averiguados, e isso dificulta as investigações.

P2P

Na definição técnica, a sigla P2P significa peer-to-peer. Em português, ponto a ponto. Trata-se de um sistema de compartilhamento de arquivos - documentos, imagens, vídeos ou áudios - por meio de cada computador. Ou seja, o usuário é emissor e receptor ao mesmo tempo. Este é um dos sistemas mais utilizados na pedofilia digital.
Neste contexto, a sigla poderia até ter outro significado: “pedófilo a pedófilo”. A pessoa que tem as imagens só precisa estar com o computador ligado para estar passando este material. Ela acaba sendo uma fornecedora em potencial da pedofilia.
  
Na prisão

A pedofilia digital, independente de suas “variações”, prevê, além de multa, a reclusão dos envolvidos. Segundo o artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quem comercializar este material pode ficar preso de 4 a 8 anos. De acordo com a Polícia Federal são poucos os casos para fins comerciais. A maioria dos inquéritos diz respeito ao impulso por conta da libido.
Quem troca ou disponibiliza este material entra na alínea A deste artigo e está sujeito à reclusão de 3 a 6 anos e mais multa. Já quem armazena ou adquire, é enquadrado na alínea B, com pena prevista de 1 a 4 anos, além do pagamento de multa.
A Polícia Federal ainda citou que como todo crime, há agravantes e atenuantes. Um desses pontos é a quantidade de material encontrado. Isto pode colaborar para mensurar a intensidade do delito.

FONTE: Bastos Já



quarta-feira, 4 de abril de 2012

GOVERNO VAI REFORÇAR CAMPANHA DE COMBATE AO ABUSO SEXUAL DE CRIANÇAS


Segundo dados da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, divulgados pelo Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, mais de 66 mil denúncias de violência sexual contra esse público foram apresentadas em quase oito anos de funcionamento do serviço Disque 100 no país. A maioria das vítimas é do sexo feminino, enquanto os infratores são em sua maioria homens.

Em Porto Velho, conforme dados parciais da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), de janeiro a 30 de setembro de 2011 foram registrados 357 casos, dos quais 181 foram estupros de adolescente, 110 estupros de vulneráveis (até 14 anos), 48 abusos de incapaz (até 14 anos e adolescentes com problemas mentais ou outra deficiência que a incapacita à resistência), 16 abusos sexuais e dois atentados violentos ao pudor, que a partir de agosto de 2009, com a Lei 12.015/2009, passaram a ser considerados estupro, mesmo sem a concretização do ato sexual.

A maioria dos casos geralmente ocorre ou é registrado nos períodos da manhã e tarde, quando os pais ou pessoa responsáveis pelos cuidados estão trabalhando fora de casa, e a criança ou adolescente fica exposta ao infrator, com predominância, segundo dados da DPCA, para membros da própria família, seguido de desconhecidos e vizinhos. A faixa etária das vítimas com maior incidência no período foi dos 14 aos 17 anos (99), seguida de 7 a 13 (95), não identificada (85) e de zero a 6 anos (65).

Já em 2012, os dados parciais apontam que foram feitas 32 denúncias pelo Disque 100, e 64 em março, incluindo também maus tratos. Com relação ao estupro, foram seis em janeiro e 11 em fevereiro.

A proposta do governo estadual é levar informações à população utilizando todos os meios de comunicação com vistas a incentivá-la a denunciar, mesmo que anonimamente, pelo Disque 110 (ou 190) e combater essa criminalidade hedionda, que acontece de duas formas: abuso e exploração, sendo a primeira quando um adulto utiliza o corpo de uma criança para praticar um ato sexual, e a segunda é quando uma criança é explorada sexualmente com a intenção de se obter lucro.

Histórico

O dia 18 de maio marca o desaparecimento, em 1973, da menina Araceli Cabrera Crespo, em Vitória (ES), encontrada morta seis dias depois, após ter sido espancada, estuprada e drogada numa orgia de drogas e sexo promovida por pessoas influentes da cidade. No peito, barriga e partes genitais da menina havia marcas de dentes, enquanto seu queixo foi deslocado com um golpe e o resto do corpo, o rosto principalmente, foi desfigurado com ácido.

Os acusados, liderados por Paulo Constanteen Helal, o Paulinho, e Dante de Brito Michelini, o Dantinho, eram conhecidos por sentir atração por crianças do sexo feminino que eram drogadas e violentadas em um casarão denominado, paradoxalmente, de Jardim dos Anjos e em apartamentos mantidos exclusivamente para festas de embalo. Eles ainda chegaram a ser presos, mas logo soltos. Em 1980 foram julgados e condenados, mas a sentença foi anulada.

Em novo julgamento, realizado em 1991 foram absolvidos. Apesar de o crime ter prescrito, ainda gera revolta e medo em Vitória.

http://www.rondoniaovivo.com/noticias/governo-vai-reforcar-campanha-de-combate-ao-abuso-sexual-de-criancas/86409

domingo, 1 de abril de 2012

ATO DE REPÚDIO AO STJ - DIZ QUE NÃO CONSIDERA CRIME ESTUPRAR MENINAS DE 12 ANOS



RIO DE JANEIRO – 05/04/2012 – 17 horas
LARGO DA CARIOCA, NA SAÍDA DO METRÔ, EM FRENTE À AV: RIO BRANCO, QUINTA FEIRA, ÀS 17H, 5 DE ABRIL.

Ato de reúdio contra o STJ no Centro do Rio:Ao julgar um homem acusado de estuprar meninas de 12 anos antes da mudança do Código Penal, a Corte entendeu que não houve crime porque as meninas eram prostitutas. 

DEFESA DA MULHER NAS RUAS URGENTE!!



ABUSO SEXUAL: O FANTASMA QUE ROUBA SONHOS INFANTIS


Criança e adolescente são os maiores alvos da violência sexual


Os números não retratam a realidade, apesar da ampliação da rede de proteção. Mas as estatísticas disponíveis, mesmo que precárias, revelam que crianças e adolescentes são os maiores alvo de violência sexual, seja na condição de vítimas de abuso (qualquer ato praticado sem o consentimento da vítima) e até da exploração sexual (quando praticada com fins comerciais – há casos em que as crianças se tornam armadilhas tendo pirulitos como oferta para a prática sexual).

A Maternidade Nossa Senhora de Lourdes se tornou a principal porta de entrada para acolher e cuidar de vítimas da violência sexual no Estado de Sergipe e apresenta um dado assustador. Para se ter ideia, dos 432 casos de violência sexual atendidos naquela maternidade, 86% das vítimas são crianças e adolescentes.
No ano passado, a maternidade atendeu a 79 vítimas de violência sexual, entre as quais 33 com faixa etária com até dez anos de idade e 46 com idade entre 11 a 17 anos. E não apenas as vítimas são do sexo feminino. Entre os casos, a maternidade prestou atendimento a 13 meninos vítimas deste tipo de violência.

Os casos registrados pela maternidade ocorrem na capital e em 29 cidades do interior do Estado, com concentração da maioria dos casos (24) em Aracaju. A grande maioria dos agressores é identificada e os acusados foram presos, segundo informações da enfermeira Maria da Glória Barros, que integra a equipe multidisciplinar que atende a vítimas de violência sexual na Maternidade Nossa Senhora de Lourdes.

Os agressores geralmente são pessoas bem próximas às vítimas, conforme observa a promotora Mírian Tereza Cardoso Machado, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância do Ministério Público Estadual. Há também, segundo a promotora, grande incidência de idosos pensionistas que pagam à família da vítima para manter crianças e adolescentes sob regime de escravidão sexual, tudo com o consentimento das mães, que vêem nos idosos a fonte de renda.
Na Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV), tramitam somente este ano 13 inquéritos policiais instaurados para investigar abuso e violência sexual cometidos por adultos contra crianças e adolescentes.


SEM PROTEÇÃO

Em setembro do ano passado, a Polícia Civil prendeu seis homens acusados de envolvimento com a exploração sexual praticada contra cerca de cinco crianças, todas menores de 11 anos de idade. Os acusados foram identificados e continuam presos: Antônio Carlos Rosendo da Silva, conhecido como ‘Gordo’, um aposentado, de 53 anos, já foi preso por tentativa de homicídio contra o coronel Prudente; Wellington dos Santos, de 50 anos; José Dos Santos, de 56 anos; o carpinteiro Albino de Santana Silva, de 45 anos; José Fernando Costa Marcos, de 61 anos, e o pescador Pedro Francisco dos Santos, de 42 anos, proprietário de uma peixaria e de um lava jato.

E as vítimas? Segundo levantamento da delegada Lara Schuster, titular da Delegacia de Atendimento a Criança e Adolescente Vítima, há informações que aquelas crianças voltaram aos semáforos na Coroa do Meio e há suspeita de que elas permanecem vítimas da exploração sexual devido à pobreza das famílias, que encontram na exploração sexual das crianças a fonte de renda, numa clara demonstração da ausência do Estado e da deficiência da rede de proteção. “A situação é muito complexa”, conceitua a delegada. “A questão social está intimamente ligada ao combate à violência sexual”, diz. Ela garante que a polícia voltará a novas investigações para identificar novos homens que exploram aquelas crianças.

Para a psicóloga Ana Karine Braga, a rede de proteção não funciona por falta de projetos educacionais que possam promover renda às famílias. “Falta fazer o acompanhamento aos pais, com a promoção de atividades voltadas para a sustentabilidade da família”, ressalta a psicóloga.


ACOLHIMENTO

A Rede de Proteção falha, na ótica da assistente social Cláudia Cardoso, gerente de proteção social especial da Secretaria de Estado de Inclusão, Desenvolvimento e Assistência Social (Seides), devido às subnotificações. Muitas vezes, conforme explicou, há a prestação do atendimento, mas o caso não é notificado. Deficiência que está sendo  corrigida com a implantação do Sistema de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia), que consiste em interligar a rede a partir dos encaminhamentos e assistência às vítimas.

Há também a omissão da família, principalmente nas classes de maior poder aquisitivo. A reportagem do Portal Infonet tem conhecimento de pelo menos um caso em condomínio de luxo no qual o filho de uma faxineira, adolescente com 16 anos, abusou sexualmente de uma criança de apenas dez anos, relação sexual cometida dentro da piscina do condomínio. A vítima é um garoto filho de um casal bem sucedido morador do condomínio. Mas este caso não chegou ao conhecimento da rede de proteção.
Casos desta natureza não são investigados pela omissão da família, que optam por encaminhar os filhos vítimas ao consultório médico da rede privada, com acompanhamento do psicólogo particular. “As famílias de renda alta não denunciam porque têm vergonha e constrangimento”, revela a psicóloga Ana Karine Braga, especialista em educação infantil.

A Seides também é uma porta de entrada para acolhimento a vítimas. A Rede de Proteção envolve várias Secretarias de Estado, mas uma das maiores portas de acolhimento tem sido os 35 Centros de Referência Especializados da Assistência Social (Creas) atuando em 32 municípios.

Em 2010, o número de atendimentos foi bem superior aos realizados em 2011. Mas percebe-se que a maior incidência nos atendimentos estão relacionados a abuso e exploração sexual, tendo crianças e adolescentes os maiores alvos. Em 2010, a Seides desenvolveu o trabalho em apenas 12 municípios e os Creas atenderam a 316 casos de violência sexual, sendo que em 305 as vítimas são crianças e adolescentes, o equivalente a 96,5% da totalidade das ocorrências.

Para a promotora Mírian Tereza Cardoso Machado, coordenadora do Centro de Apoio Operacional da Infância do Ministério Público Estadual, está faltando política pública para garantir os direitos da criança e do adolescente. Um dos motivos para a violência sexual está, na ótica da promotora, na desestruturação familiar. “Não podemos voltar à hierarquia de antigamente, em que a criança obedecia por medo, mas é preciso que os pais estabeleçam limites aos filhos, com disciplina e companheirismo”, comenta a promotora.

A psicóloga Ana Karine Braga orienta os pais a conversar com os filhos de forma aberta sobre sexualidade, deixando-os bem orientado para que eles possam criar defesa, mas rodeado de cuidados para não assustá-los. “Não podemos criar filhos submissos, eles têm que aprender a reagir quando sentirem-se ameaçados”, comenta a psicóloga.



ABRIGO

Para o delegado de polícia Marco Passos, titular da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (DEPCA), a iniciativa da criança e do adolescente em fugir de casa sempre está relacionada a abuso sexual. E os abrigos seriam a última alternativa para amparar crianças e adolescentes com vínculos familiares rompidos, na concepção da promotora Mírian Tereza.

Dados da Seides revelam que, nos abrigos, pelo menos 17% daqueles que vivem na capital, são vítimas de abuso ou violência sexual e 10% deste universo no interior. Nos abrigos também acontecem casos de abuso sexual.

São crianças e adolescentes vítimas de adolescentes mais velhos. Na Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente tramitaram, no ano passado, pelo menos quatro procedimentos de investigação relacionados a violência sexual ocorridas em abrigos e em uma escola pública, que cuida de crianças e adolescentes portadoras de doença mental, entre os nove procedimentos instaurados no ano passado, que incluem abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes.

Neste ano, foi registrado um caso de abuso sexual praticado por adolescentes contra um adolescente na Casa do Menor São Miguel do Arcanjo. Durante a noite três adolescentes abusaram de um adolescente do sexo masculino. Os abrigos não são modelo ideal para amparar crianças e adolescentes vítimas da degradação familiar, na ótica da promotora Mírian Tereza. “É necessário que os municípios adotem um novo modelo de acolhimento”, comenta a promotora Tereza Mírian, ao defender a ‘família acolhedora’ como um formato mais próximo do ideal. “E todo acolhimento deve ser por um período breve, estourando por dois anos, de forma que a criança e o adolescente voltem, com segurança, ao convívio familiar”, enaltece a promotora.

Para a psicóloga Ane Karine, há verdadeira falta de segurança nos abrigos, principalmente durante a noite. “Geralmente há apenas um segurança. Tem que haver maior segurança, colocar mais pessoas trabalhando durante a noite”, sugere a psicóloga. “Nos abrigos também é difícil detectar os casos porque a violência geralmente é praticada por adolescentes mais velhos que dominam os mais novos”, diz.
As denúncias de abuso sexual podem ser feitas por telefone – O Disk 100 de Direitos Humanos – com preservação do denunciante. O Disk 100 é um sistema nacional.

Por Cássia Santana










quinta-feira, 29 de março de 2012

ABUSO SEXUAL NA INFÂNCIA É CADA VEZ MAIS DENUNCIADO



Em 10 anos, triplicou o número de atendimentos a crianças vítimas de abuso sexual em São Paulo, de acordo com o levantamento da Secretaria de Estado da Saúde no hospital estadual Pérola Byington (SP). A notícia, que assusta (e muito!) a princípio, não é tão ruim quanto parece: esse aumento de consultas não significa que mais crianças estejam sendo vítimas de pedofilia, e sim que cada vez mais estão denunciando os casos de abuso. 



“As pessoas estão mais sensibilizadas, procurando ajuda, conversando. Há 10 anos, desconheciam o serviço de auxílio às vítimas de abuso sexual”, diz Daniela Pedroso, psicóloga do Núcleo de Violência Sexual do Hospital Pérola Byington, que atende gratuitamente, 24 horas por dia, as vítimas de pedófilos e suas famílias. Segundo a especialista, parte disso se deve à propagação da informação sobre a importância de denúncias, parte mostra a mudança na postura dos pais. "Eles estão dando mais atenção ao que os filhos dizem hoje. Afinal, nem tudo o que as crianças contam é fantasia", diz.

Manter um diálogo aberto, aliás, é a chave para proteger os filhos. Explique, por exemplo, sem assustá-las, em uma conversa descontraída, que o corpo é só delas, e não é certo que outras pessoas toquem sem a permissão delas. Na infância, elas ainda não têm maturidade para falar sobre sexo. Então, cabe a você encontrar a melhor forma para abordar, aí na sua casa, um assunto tão delicado.

Nada como os pais para perceber quando o comportamento do filho está completamente diferente do que o costume. Fique atento a atitudes repentinas como: queda brusca de desempenho escolar, medo de ficar exclusivamente com adultos, postura agressiva, condutas regressivas (como fazer xixi na cama), sexualização precoce, brincadeiras violentas com bonecas e maus-tratos a animais. Mas não se assuste. “Esses sintomas, isolados, não significam necessariamente que seu filho esteja sofrendo abuso sexual”, tranquiliza Daniela Pedroso. É somente um alerta, que merece sua atenção. 




quarta-feira, 28 de março de 2012

PARA MARIA DO ROSÁRIO, DECISÃO DO STJ SOBRE ESTUPRO DE VULNERÁVEIS “SIGNIFICA CONSTITUIR UM CAMINHO DE IMPUNIDADE”




A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, manifestou hoje (28) sua indignação com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre estupro de vulneráveis. Ontem (27), a Terceira Seção da Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como estupro, de acordo com o caso.
 O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
 A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”.
 Para Maria do Rosário, os direitos das crianças e dos adolescentes jamais poderiam ser relativizados. “Ao afirmar essa relativização usando o argumento de que as crianças de 12 anos já tinham vida sexual anterior, a sentença demonstra que quem foi julgada foi a vítima, mas não quem está respondendo pela prática de um crime”, disse a ministra à Agência Brasil.
 A decisão do STJ diz respeito ao Artigo 224 do Código Penal, revogado em 2009, segundo o qual a violência no crime de estupro de vulnerável é presumida. De acordo com a ministra, o Código Penal foi modificado para deixar mais claro que relações sexuais com menores de 14 anos é crime. “Nas duas versões [do Código Penal], o juiz poderá encontrar presunção de violência quando se trata de criança ou adolescente menor de 14 anos. Essa decisão [do STJ] significa constituir um caminho de impunidade”.
 Maria do Rosário disse ainda que vai entrar em contato com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, para tratar do caso e buscar “medidas jurídicas cabíveis”. “Estamos revoltados, mas conscientes. Vou analisar a situação com o doutor Gurgel e com o Advogado-Geral da União para ter um posicionamento”.
Brasília- A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, manifestou hoje (28) sua indignação com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre estupro de vulneráveis. Ontem (27), a Terceira Seção da Corte decidiu que atos sexuais com menores de 14 anos podem não ser caracterizados como estupro, de acordo com o caso.


O tribunal entendeu que não se pode considerar crime o ato que não viola o bem jurídico tutelado, no caso, a liberdade sexual. No processo analisado pela seção do STJ, o réu é acusado de ter estuprado três menores, todas de 12 anos. Tanto o juiz que analisou o processo como o tribunal local o inocentaram com o argumento de que as crianças “já se dedicavam à prática de atividades sexuais desde longa data”.
 A decisão do STJ é uma reafirmação do entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a questão. Em 1996, o ministro Marco Aurélio Mello, relator do habeas corpus de um acusado de estupro de vulnerável, disse, no processo, que presunção violência em estupro de menores de 14 anos é relativa. "Confessada ou demonstrada o consentimento da mulher e levantando da prova dos autos a aparência, física e mental, de tratar-se de pessoa com idade superior a 14 anos, impõe-se a conclusão sobre a ausência de configuração do tipo penal”.
 Para Maria do Rosário, os direitos das crianças e dos adolescentes jamais poderiam ser relativizados. “Ao afirmar essa relativização usando o argumento de que as crianças de 12 anos já tinham vida sexual anterior, a sentença demonstra que quem foi julgada foi a vítima, mas não quem está respondendo pela prática de um crime”, disse a ministra à Agência Brasil.
 A decisão do STJ diz respeito ao Artigo 224 do Código Penal, revogado em 2009, segundo o qual a violência no crime de estupro de vulnerável é presumida. De acordo com a ministra, o Código Penal foi modificado para deixar mais claro que relações sexuais com menores de 14 anos é crime. “Nas duas versões [do Código Penal], o juiz poderá encontrar presunção de violência quando se trata de criança ou adolescente menor de 14 anos. Essa decisão [do STJ] significa constituir um caminho de impunidade”.
 Maria do Rosário disse ainda que vai entrar em contato com o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e com o advogado-geral da União, Luiz Inácio Adams, para tratar do caso e buscar “medidas jurídicas cabíveis”. “Estamos revoltados, mas conscientes. Vou analisar a situação com o doutor Gurgel e com o Advogado-Geral da União para ter um posicionamento”.

Daniella Jinkings

Repórter da Agência Brasil 



terça-feira, 27 de março de 2012

VEJA UM DEPOIMENTO REAL DE UMA VITIMA DE ABUSO SEXUAL




Eu fui uma de tantas crianças que foram abusadas sexualmente na infância por meu pai. Não fui a primeira nem a última. Antes de me abusar, ele já abusara de crianças e adolescentes, tanto na família de origem dele como na da minha mãe.

Minhas lembranças de ter sido abusada por ele, vêm desde a época que eu ainda ia ao jardim de infância. Meu pai me assediava diariamente e esta tortura durou por toda minha infância e também adolescência, quando comecei a tentar me esquivar dele e a protestar contra suas investidas.

Como é comum de abusadores deste tipo, desde pequenina meu pai fazia chantagens emocionais comigo, pedia que eu guardasse segredo, como prova de meu amor por ele, pois caso contrário ele afirmava que seria preso. Ele dizia que as pessoas não entenderiam este amor dele por mim. Segundo ele, este amor que ele dizia sentir por mim era o maior que ele já tivera. Ele dizia não sentir amor por minha mãe e sim por mim.

Meus conceitos de certo ou errado, ficaram afetados por muitos anos, pois o conflito de querer acreditar que meu pai estava certo, como toda criança acredita e a sensação de que algo estava muito errado, por causa do segredo que ele me fazia guardar, fizeram com que eu tivesse uma percepção muito distorcida da realidade durante a minha infância.

Jamais consegui ter proximidade com minha mãe ou ser amiga dela, nem eu sentia que ela era minha amiga, pois meu pai dizia que se ela sentiria muitos ciúmes e raiva de mim se um dia soubesse que ele amava mais a mim do que a ela. Assim, como defesa, eu passei a sentir raiva dela desde criança.

Anos mais tarde, quando eu já era adulta, fiquei sabendo que ela tinha conhecimento de que meu pai abusara de pessoas na família dela também, antes de eu nascer. Sabendo disto não consegui mais ter respeito por ela depois de perceber que, apesar de ela saber que meu pai continuava a abusar sexualmente de crianças, ela ainda insistia tanto em querer ficar ao lado dele.

Acho importante transmitir às pessoas o quanto o abuso sexual se estende para muito além do próprio abuso sexual. Isso afeta a vida das pessoas no sentido mais intenso e mais extenso que qualquer tipo de violência pode causar, ao mesmo tempo que deixa a pessoa viva para sofrer a dor do abandono, da traição e do desamor.

Minha baixa auto estima, meu sentimento derrotista e minhas dificuldades de relacionamentos culminaram em uma forte depressão aos meus 26 anos, quando fui abandonada por um namorado, que apesar de ser médico, dizia não conseguir conviver com meus estados depressivos. Como muitas das vítimas de abuso sexual na infância, eu também não quis mais viver…

Após longo período de hospitalização, psicoterapia e antidepressivos, tive retomada a vontade de viver. Mas o principal motivo, foi acreditar que eu era amada por aqueles que me socorreram: meus próprios pais.

Pedidos de desculpas, foram encarecidamente apresentados, assim como cumprimentos de novenas e promessas de que meu pai jamais abusaria sexualmente de qualquer pessoa novamente, em troca do meu perdão. Ele se declarava "curado"! Jurava que eu podia acreditar nele a partir de então.

Eu era a pessoa que mais queria acreditar nisso. Eu acreditei que a iminência da minha própria morte o fizera perceber o quanto ele havia me machucado e o perdoei tentando recomeçar uma vida nova. Eu não fazia idéia ainda, de que a história acontecida comigo voltaria a se repetir por muitos anos afora.

Mais tarde, depois de perceber toda a farsa, ao me dar conta de que ele voltara a abusar sexualmente de crianças, passei anos me debatendo em brigas com meu pai e ele tentando convencer as pessoas de que eu era louca.

Todas as tentativas de fazer com que as pessoas acreditassem em mim foram inúteis. As pessoas da minha família achavam que eu tinha uma obsessão em suspeitar dele por causa do que eu havia vivido na infância.

Fiquei mais uma vez isolada, desta vez por trazer a verdade à tona e tentar proteger novas vítimas.

Sem as interferências negativas de minha família, consegui me fortalecer, apesar de ter carregado ainda por muitos anos o sentimento de culpa de que se um dia eu fosse tornar pública uma denúncia contra meu pai, eu iria destruir minha família.

Apesar disso, a idéia não me saia da cabeça, pois eu sabia que ele continuava a molestar crianças, mas eu me sentia ainda acuada e isolada para tomar uma atitude em relação a isso.

Tudo mudou, quando tomei conhecimento da ASCA, uma organização de sobreviventes de abuso sexual na infância aqui na Austrália.

Ao ouvir as histórias de outras sobreviventes, me dei conta de como minha história se repetia na vida de tantas outras pessoas que eu nem conhecia e também de como ficava mais claro olhar de fora a experiência destas pessoas e analisar meus próprios traumas.

Além dos encontros, outras formas de ensinamentos compartilhados foram a intensa leitura de obras literárias de outros sobreviventes, de terapeutas do ramo e de pesquisas.

Com tudo isso, passei a não me sentir mais isolada e sim fortalecida. Eu me conscientizei, a partir de então, que era meu direito reclamar minha dignidade e também era meu dever alertar as pessoas para proteger novas vítimas de meu pai.

Depois de denunciar meu pai por escrito para as autoridades no Brasil e não ter recebido resposta em tempo devido, resolvi lançar o site R-Evolução Anti Pedofílicos, como meu último pedido de socorro.

Decidi que ninguém mais me faria calar todas as angústias e repressões que eu tinha atravessadas na garganta por toda minha vida.

Foi a partir daí que a coisa começou a tomar jeito. A promotoria apresentou a denúncia e com o tempo outras vítimas de meu pai começaram a confirmar os abusos.

Quando o abusador já estiver em idade avançada, como no caso de meu pai, as pessoas se deixam influenciar pela aparência do velho frágil e desprotegido, sem se dar conta de que por trás daquela imagem ilusória existe uma pessoa perigosa.

Outro problema que ainda existe é a crença de que crianças querem seduzir os adultos através do sexo. Não existe como a vítima ver no terapeuta o seu aliado, se este não acredita na inocência, tanto do ato, como da intenção desta.

Quebrar o silêncio é o primeiro passo para isso.

Entretanto, também é necessário que esta possa se valer de direitos e de mecanismos legais de proteção e de reconhecimento e de respeito pelos danos sofridos.

A falta de legislação adequada que garanta a proteção das vítimas e testemunhas, bem como o afastamento definitivo do abusador de suas vidas, faz com que a grande maioria jamais reclame ou tome a iniciativa de denunciar os abusadores.

Depoimento de Elisabeth Nonnenmacher
Sobrevivente de abuso sexual na infância e editora do site R-Evolução Anti Pedofílicos (www.r-eap.org).