Com o aumento
da divulgação de casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, no
Brasil ou no exterior, a mídia tem usado indiscriminadamente o termo “pedófilo”
ao se referir a um abusador sexual.
Embora
devamos entender que todos
eles estão cometendo uma violência e uma violação de direitos contra uma
criança ou um adolescente, a ausência dessa distinção prejudica uma compreensão
mais objetiva do fenômeno, ao mesmo tempo em que simplifica as análises e as
políticas de intervenção ao incluir, em um mesmo grupo, indivíduos com
motivações e características psíquicas bem diferentes”, afirmam os
pesquisadores Renata Coimbra Libório e Bernardo Monteiro de Castro, ambos
psicólogos, em seu artigo Exploradores Sexuais, Pedofilia
e Sexualidade: Reflexões para o Enfrentamento da Violência Sexual contra
Crianças e Adolescentes, publicado em 2010.
Nem todo pedófilo é abusador. E nem todo abusador sexualé um pedófilo.
Entenda, a seguir, as diferentes categorias de agressores:
Pedófilo: Para a Psiquiatria, o pedófilo é um indivíduo que apresenta um
transtorno sexual caracterizado por fantasias sexuais excessivas e repetitivas
envolvendo crianças. Tem, portanto, uma parafilia – definida, de acordo com o
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV), como a
recorrência de impulsos sexuais muito intensos e por fantasias e comportamentos
não-convencionais de caráter compulsivo. “A motivação que está por trás da
busca pelos corpos infantis é o desejo sexual que o pedófilo nutre
pela criança per se e o prazer obtido por meio dela. Dificilmente um pedófilo
sente atração sexual por uma pessoa adulta”, escrevem os pesquisadores Renata e
Bernardo no artigo. Segundo o psiquiatra francês Patrice Dunaigre, especialista
em pedofilia citado no texto, os pedófilos
provavelmente não tiveram um desenvolvimento psicossexual satisfatório. Revelam
uma sexualidade imatura e pouco elaborada, o que os leva a temer a aproximação
com parceiros adultos, já que esses podem resistir às suas investidas
afetivo-sexuais. Por serem sexualmente inibidos, escolhem como parceiros as
crianças (são mais vulneráveis e com menor capacidade de resistência), com as
quais se identificam.
Ainda conforme
o artigo, o pedófilo não consegue estabelecer um controle
racional ou objetivo diante de sua demanda erótica. Por isso, pode se tornar um abusador. E, se evita o
contato com uma criança ou um adolescente, é provável que busque imagens de pessoas
naquela faixa etária ou textos que correspondam a suas fantasias para se
satisfazer.
Abusador:
Longe do estereótipo de “monstro”, atribuído muitas vezes pela mídia, o abusadorgeralmente não
apresenta comportamento condenável social ou legalmente. Pode pertencer a
qualquer classe social e, na maioria dos casos, está próximo da criança e conta
com a confiança dela. Aproveita-se da relação assimétrica de poder que mantém
com a vítima. “O abuso do poder para fins de gratificação e satisfação sexual
pode acontecer através de mecanismos de chantagem, ameaça ou violência
explícita, mas pode configurar-se também por meio de um jogo emocional onde os
desejos e conflitos não são explícitos e a vítima torna-se refém
da trama de seus sentimentos”, afirma a psicóloga Maria Aparecida Martins Abreu
em sua dissertação de mestrado Trágica Trama: o abuso sexual
infantil representado no filme Má Educação (2005).
Conforme a
publicação Reconstrução de Vidas (2008), do Centro de Referência às
Vítimas de Violência, do Instituto Sedes Sapientiae, o agressor sabe que seus
atos abusivos são errados, ilegais e prejudicais à criança, mas mesmo assim os
mantém.
“O abuso não provoca uma experiência primária de prazer, e sim alívio de
tensão. A excitação e a gratificação sexual levam à dependência psicológica e à
negação dessa realidade”, diz o texto. Ainda de acordo com a obra, nas famílias
onde ocorrem práticas abusivas, há com frequência a presença de condições que
favorecem esse tipo de interação, como fronteiras frágeis entre as gerações;
estrutura familiar simbiótica, rígida ou caótica e vínculos disfuncionais que
superprotegem ou excluem um ou outro de seus membros.
FONTE: CHILDHOOD