TRT do Paraná promove palestra contra a
pedofilia
Não é somente uma agressão ao corpo, é uma
agressão à alma, aponta a sargento Tânia Mara Abrão Guerreiro que realizou a
palestra de alerta contra esse crime que vitima milhares de crianças
brasileiras a cada ano
O pedófilo não tem cara, não tem classe social,
não tem modo de andar e de falar. Ele pode ser qualquer pessoa, e pode estar ao
seu lado. Com essa definição, a sargento Tânia Mara Abrão Guerreiro, deu início
à palestra Quebrando o Silêncio, promovida pela Comissão de Responsabilidade
Socioambiental do Tribunal Regional do Trabalho do Paraná (TRT-PR) numa alusão
ao Dia da Criança, comemorado em 12 de outubro.
Tânia coleciona experiências na luta contra o
abuso sexual infantil. São 31 anos de serviço na Polícia Militar do Paraná,
sendo 29 anos dedicados especialmente ao combate à pedofilia. Ela ressaltou a
importância do combate à pedofilia, pois como os abusos acontecem entre quatro
paredes, o silêncio se perpetua, explica.
Segundo relatos da sargento Tânia, até os cinco
anos de idade a criança pode não interpretar o abuso como uma agressão,
dependendo do contexto em que acontece, pois o pedófilo costuma agir por meio
de brincadeiras. Ele inventa histórias infantis para justificar o abuso, além
de oferecer guloseimas e brinquedos para conquistar a confiança da criança,
explica. Somente a partir dos seis anos, os pequenos começam a perceber que o
mesmo carinho ofertado a elas, não é dado às outras crianças e passam a
considerar a atitude errada. Dessa forma, as ameaças e agressões por parte do
pedófilo tornam-se constantes, pois a criança passa a se esquivar da situação
de abuso, confirma a sargento.
Os índices de agressão sexual às crianças são
alarmantes. Em Curitiba e na Região Metropolitana, diariamente, quatro crianças
são vítimas de abuso sexual. Já no Brasil, o número é ainda maior: são oito
crianças violentadas a cada minuto. Destas, 25% irão desenvolver depressão na
idade adulta, com fortes tendências ao suicídio. Atendi um caso de um menino de
sete anos, vítima de pedofilia, que tentou cometer suicídio três vezes, conta
Tânia.
A baixa autoestima também é um sintoma presente
em cerca de 58% das vítimas, pois os pedófilos acusam a criança de participação
e provocação nos abusos, diz a sargento. Juntamente com a culpa e a
insegurança, muitas crianças ainda sofrem com a conivência da própria mãe.
Cerca de 90% delas são cúmplices da situação porque têm medo de perder o
marido. Outras sentem ciúmes da atenção dedicada à criança e entram numa
disputa afetiva com os próprios filhos, ressalta.
Na opinião da sargento Tânia, iniciativas como
a do TRT-PR deveriam ser expandidas para outros órgãos e instituições, a fim de
conscientizar a população a respeito dos perigos da pedofilia e alertar sobre a
falta de legislação específica. No Brasil, a pedofilia se enquadra
juridicamente como crime de estupro de vulnerável, com pena de oito a 15 anos
de reclusão. Porém, como a grande maioria dos molestadores não possui
antecedentes criminais, a pena acaba sendo reduzida. Dessa forma, a punição
torna-se pequena porque quando o pedófilo ganha a liberdade, a criança ainda
não cresceu, e os abusos, muitas vezes, voltam a acontecer, finaliza.
A palestra contou ainda com a participação da
desembargadora Federal do Trabalho Ana Carolina Zaina, presidente da Comissão
de Responsabilidade Socioambiental.
Texto e fotografias: Letícia Gabriele, com
supervisão de jornalista profissional.
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