Especialista afirma: ter o distúrbio não significa
se livrar da responsabilidade sobre abusos cometidos contra jovens que nem
sempre revelam o que ocorre
Apesar dos
fortes testemunhos dos filhos, de uma cunhada e da sobrinha, além da convicção
da polícia, o advogado Sandro Fernandes, 45 anos, ainda encontra defensores e
pessoas que acreditam numa armação na denúncia de pedofilia.
É mesmo difícil
compreender que um advogado bem sucedido e com história de militância política
e social em Bauru de repente vire réu num processo escandaloso como esse, que
envolve suposto abuso sexual dos próprios filhos e outras pessoas da
família.
É
doença? Sandro não tinha controle sobre os próprios atos? Ou é apenas um
criminoso que não poupou sequer os filhos que, durante um tempo, sofreram
calados?
Todas perguntas
complexas, difíceis de serem respondidas. Mas é possível divulgar o que diz a
ciência, os especialistas nesse tipo de assunto. É o caso do médico Jefferson
Drezett, diretor do Ambulatório de Violência Sexual do Hospital Pérola
Byington, em São Paulo.
Segundo ele, não
existe um “tipo” único de autor ou uma motivação exclusiva para a prática de
abuso sexual.
“Em se tratando de
ocorrências contra crianças, a questão da pedofilia ganha notável importância,
embora não seja regra para todos os casos”, diz.
De acordo com ele, o
desejo inadequado de manter relações sexuais com crianças é entendido como
doença pela OMS (Organização Mundial de Saúde). A pedofilia faz parte do Código
Internacional de Doenças.
“No entanto, isso não
significa que o autor da violência sexual necessariamente não saiba o que está
fazendo ou não possa escolher suas ações”, ressalta o médico.
Segundo Drezett, ter o distúrbio também não impede que ele reconheça a
proibição social do incesto e as graves consequências para as vítimas.
O médico afirma ainda
que ser pedófilo não quer dizer que o responsável por abusos sexuais não
deva ser responsabilidade por suas escolhas e pelo que elas causam às
vítimas.
Cristina Camargo
Agência BOM DIA
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