Uma psicóloga da Polícia Judiciária (PJ) disse à Lusa que a sede de domínio é “a questão mais importante” no abuso sexual, sendo “o poder sobre a vítima muito mais importante [para o agressor] do que o prazer sexual”.
Nos últimos meses, têm-se multiplicado os casos de alegados abusos sexuais, sendo o mais recente e mediático o do antigo director-geral do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn, que na terça-feira vai a tribunal para saber se o juiz decide prosseguir o julgamento ou abandona as acusações referentes ao suposto abuso de uma empregada de hotel em Nova Iorque.
“A questão do abuso e do poder está presente na maior parte dos casos de abuso sexual. Não é específico de esferas de alta sociedade nem de cargos políticos, uma das características dos agressores sexuais é a questão de domínio e de poder. Aliás, a questão mais importante na agressão sexual é o domínio e o poder sobre a vítima, muito mais do que o prazer sexual”, afirmou Raquel Guerra, psicóloga da PJ.
Cristina Soeiro, também psicóloga daquela instituição, explicou que os abusos sexuais são dos crimes com “maior variabilidade dos agressores”, pelo que não é possível traçar um perfil único do agressor sexual.
“Os crimes sexuais são uma tipologia de crimes muito heterogénea, é um tipo de crime onde existe maior variabilidade dos agressores e uma das variáveis onde existe essa abrangência são as variáveis sócio-culturais”, afirmou Cristina Soeiro, uma afirmação que Raquel Guerra, também psicóloga daquela instituição, corroborou.
“Estima-se que dentro dos agressores dos vários tipos de crimes, os sexuais sejam os mais heterogéneos. Há agressores sexuais de todos os extractos sociais, com todos os 'backgrounds' académicos: de analfabetos a pessoas com formação superior. E o mesmo para as vítimas: há vítimas de todas as origens culturais ou sociais”, afirmou, por seu lado, Raquel Guerra.
No entanto, salvaguardou, as classes sociais queixam-se de formas distintas: “Nem todas as classes sociais se queixam da mesma forma por razões de estatuto social, por razões de natureza económica”, afirmou Raquel Guerra.
Cristina Soeiro acrescentou que, nos casos de abusos sexuais, “há uma componente do crime - que não é a maior parte - que é explicada por parafilia ou perturbações da personalidade” mas as outras situações podem dever-se, por exemplo, a factores como o “isolamento social”, “factores do processo de socialização” ou “suporte social”. Por exemplo, “o suporte social que faz com que as pessoas tenham mais factores de controlo para passarem ao acto”, afirmou Cristina Soeiro.
A psicóloga disse também que “geralmente a passagem ao acto está associada a situações facilitadoras e as pessoas bem inseridas têm menos factores de stress para passarem ao acto, têm mais factores de controlo, o que não quer dizer que - face a uma determinada perturbação - a pessoa não passe ao acto”.
Lusa / SOL
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