A Anistia Internacional (AI) qualificou nesta
segunda-feira como "tortura" os abusos sexuais, físicos e
psicológicos sofridos por milhares de menores em instituições administradas
pelo Estado irlandês e a Igreja Católica.
Em um relatório publicado nesta segunda-feira, a AI
na Irlanda tenta explicar por que a enorme quantidade de menores sofreu um
tratamento "degradante" e "desumano" durante décadas neste
país, indica no texto o diretor-executivo da organização, Colm O''Gorman.
Os detalhes dos abusos, casos de desnutrição e
espancamentos cometidos por funcionários destas instituições e, em sua maioria,
por padres católicos, vieram à tona nos últimos anos em quatro relatórios que
comoveram o país.
O''Gorman, também vítima de abusos sexuais, observa
que estas investigações relataram o que aconteceu com os menores, mas não o
porquê.
"Estes abusos ocorreram não porque não
sabíamos deles, mas porque muita gente em nossa sociedade preferiu ignorá-los.
Não que todo mundo soubesse, mas muita gente em posições de poder optou por não
agir", denunciou o ativista.
Em sua opinião, as atitudes da sociedade irlandesa
frente à pobreza, tanto em nível "político como público", foram
"fatores determinantes", como também o "medo" que a Igreja
Católica provocava como instituição.
"A sociedade julgou e criminalizou os menores
por serem pobres, em vez de entender os motivos que condenavam suas famílias a
viver na pobreza", lamentou.
"O abuso de milhares de crianças irlandesas é,
talvez, a maior tragédia humanitária na história do país. Muitos dos abusos
descritos respondem à definição de tortura na legislação internacional sobre
direitos humanos", afirma o dirigente da AI.
Em 2005, o "Relatório Ferns" revelou que
na pequena diocese de Ferns, no sudeste da Irlanda, foram registrados mais de
100 casos de abusos sexuais cometidos entre 1962 e 2002 por padres católicos.
Quatro anos depois, o "Relatório Ryan"
denunciava que milhares de menores haviam sido torturados em instituições
estatais dirigidas por religiosos na Irlanda entre 1940 e 1990.
Nesse mesmo ano, o "Relatório Murphy"
concluiu que na arquidiocese de Dublin, a maior do país, as autoridades
católicas ocultaram o abuso de crianças cometidos por padres entre 1975 e 2004.
Em julho de 2011, o "Relatório Cloyne"
estabeleceu que as autoridades eclesiásticas nesta diocese irlandesa ignoraram
as denúncias sobre abusos sexuais cometidos contra menores por 19 clérigos.
Após sua publicação, o premiê irlandês, Enda Kenny,
chegou a acusar o Vaticano de participar dessas manobras de ocultação e qualificou
sua atitude como "vergonhosa".
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