segunda-feira, 18 de julho de 2011

TIGRE, TIGRE - Livro recomendado para adultos



Tigre, Tigre, da americana Margaux Fragoso , não é uma leitura fácil. Segundo a revista New York, o livro tem a “cena mais indecente” publicada nos últimos dez anos. No trecho, a autora descreve seu primeiro contato com o órgão genital masculino: “O conjunto parecia um cachorro-quente sem pão com dois balões meio murchos”. A indecência: Margaux tinha então 8 anos e estava diante de um homem de 52. Era aniversário de Peter Curran[nome fictício] e ele havia pedido um presente: um “carinho especial”.

Foi o primeiro contato sexual de Margaux com o homem que abusaria dela nos próximos dez anos. Os anos de abuso, vergonha e confusão compõem o enredo de Tigre, Tigre(Rocco), recém-lançado no Brasil. Mas a narrativa não é o retrato estereotipado de uma vítima e seu algoz. Margaux, hoje com 32 anos, também expõe seus sentimentos pelo agressor e sua sensação de profundo desamparo. Seu pai, muito rígido e tradicional, não impediu seu contato com o pedófilo. Sua mãe, uma paciente psiquiátrica, não foi capaz de detectar o risco que a menina corria.

Com o livro, Margaux tenta entender como e quando se percebeu como vítima e por que, mesmo cercada de adultos, nenhum a protegeu. Nesta entrevista, concedida por e-mail a ÉPOCA, Margaux Fragoso fala do trauma do abuso e sugere como os pais devem lidar com a pedofilia.

Você sofreu abuso dos 7 aos 17 anos de idade e teve uma relação próxima com o agressor até o dia em que ele cometeu suicídio, quando você tinha 22 anos. Margaux Fragoso – Tigre, Tigre está sendo lançado quase dez anos depois da morte dele. Por que decidiu contar sua história?

Margaux Fragoso – O violento suicídio de Peter foi um catalisador. Para mim, escrever é o oposto de morrer, porque é se comunicar, é afirmar a vida. Todo dia depois de sua morte escrevi trechos de meu livro. E eu lia muito também. Escrever e ler me mantinham em contato com a minha identidade depois que meu senso sobre mim mesma havia sido tão maltratado.

No fim da vida, Peter sugeriu que você escrevesse sobre a relação que viveram. Como encarou esse pedido?
Não da maneira como ele queria. Ele sempre tentou controlar o que eu escrevia, insistindo que eu escrevesse apenas sobre os momentos felizes. O livro desafia o desejo dele. Se fosse possível conversar com quem já deixou este mundo, eu pediria a Peter para ler Tigre, Tigre. Na margem do exemplar dele, eu escreveria uma frase de James Baldwin: “Quando um livro é publicado, pode machucá-lo – mas antes que ele o machuque, eu tive que me machucar primeiro. Só posso dizer sobre você o tanto que consigo dizer sobre mim mesmo”.

O que você quer que as pessoas sintam ao terminar de ler Tigre, Tigre? O que sentiu ao terminar de escrevê-lo?
Quero que as pessoas sintam o que tiverem que sentir, não o que quero que sintam. Todos os escritorres deveriam lutar para dar aos seus leitores a chance de chegar às suas próprias conclusões. É um sentimento profundo terminar de escrever um livro e fazê-lo de uma forma que você considera correta, que o agrada. Imagino que o final é capaz de despertar assombrações para algumas pessoas. Porque, no final, fico pensando na miríade de imagens da infância e todo mundo, até certo ponto, lamenta-se da perda da infância. E há uma perda tão profunda que guarda dentro de si uma beleza, e senti essa beleza de uma maneira muito sutil enquanto eu escrevia. Eu podia ver todas as imagens em minha cabeça – o riso no bosque, o descanso nas colinas. E Peter está preso naquelas colinas; ele nunca cresceu, e essa era a tragédia pessoal que ele transmitia aos outros.

Em várias passagens, você conta que se considerava impura, uma espécie de prostituta juvenil. Quando se deu conta de que era a vítima de um crime – e não a culpada por ele?
Tenho consciência agora de que não foi minha culpa e, por isso, não tenho mais vergonha. Embora às vezes eu me sinta levemente envergonhada ao ler algumas das resenhas sobre meu livro, que soam como transcrições de um processo judicial. Uma das críticas colocava a minha foto debaixo de letras garrafais: “Exposição indecente”. O uso de um jarguão legal me fez sentir como uma criminosa. Agora sei por que as crianças raramente denunciam seus agressores. Porque há uma mensagem subliminar na sociedade de que o mensageiro, por assim dizer, será morto. Você será visto como um bem danificado ou, então, ser julgado culpado de alguma maneira. Então, por que não manter o segredo em vez de enfrentar o desprezo?

Como os pais devem tratar seus filhos em caso de abuso?
É importante que os pais tratem uma criança que foi abusada exatamente da mesma maneira que antes. Não trate a criança como se ela estivesse arruinada. Escutei pais, incluindo o meu próprio, dizer coisas como “prefiro que minha filha morra num acidente de trânsito a que seja molestada. Essa é a pior coisa que pode acontecer.” Minha resposta para isso é: não, o abuso sexual tem tratamento. Não é terminal. Pelo amor de Deus, todos precisamos parar de ser histéricos para que a criança possa de fato se recuperar. Muitos pais agem como se nunca fossem conseguir lidar com a situação se soubessem que seus filhos foram molestados. E, por favor, lidem com isso, vocês são adultos. Se vocês conseguirem lidar com isso, seus filhos conseguirão. Não passe a sua vergonha para o seu filho.

O seu livro explora um pouco a sexualidade da perspectiva da criança – você descreve o que teria sido seu primeiro orgasmo, aos 7 anos. Você acredita que deixar de falar sobre sexo com as crianças abre espaço para pedófilos?
Pelo que li, as crianças têm uma sexualidade voltada para si próprias, e é isso que descrevi naquela cena. Os estudos sobre a sexualidade na infância mostram que as crianças não pensam em outras crianças ou adultos quando têm prazer – elas não tem ideia do conceito de “sexo”. Acho importante dizer para as crianças que o corpo pertence a elas e que não precisam se sentir envergonhadas de se auto-estimular desde que isso aconteça em momentos privados. Os agressores tentam controlar a sexualidade da criança e interferem em seu desenvolvimento natural. Eles transformam aquilo que é normal e inocente em algo vergonhoso. É importante que as crianças saibam a verdade sobre o sexo quando perguntam sobre o assunto. Dizer que pertence a elas mesmas durante a infância e que, quando adultos, é dividida com outra pessoa. Procure reduzir o sentimento de vergonha ao falar do assunto com seus filhos para que eles possam se sentir livres para conversar sobre a sexualidade com os pais se precisarem, se tiverem alguma curiosidade ou se, mais grave, estiverem sofrendo algum abuso. As crianças não vão falar sobre abuso se sentirem que seus pais ficam extremamente desconfortáveis ao falar de sexo em
geral.

2 comentários:

  1. preciso falar pessoalmente com um representante do grupo URGENTEMENTE HOJE, DIGAM AONDE E QUE HORAS, RESPONDAM RÁPIDO MINHA BATERIA ESTÁ ACABANDO
    VAMOS PEGAR ESTES SAFADOS?
    POSTEM A RESPOSTA AGORA NO FACEBOOK COM NUMERO PARA EU LIGAR, Obrigado, Bom Dia.

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  2. Como é importante um relato como esse...
    Precisamos estudar muito porque os perigos estão em todos os lugares!!

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